A Unaids alertou que esse foi o primeiro passo para tornar o uso da camisinha aceitável entre os católicos
Manila - A declaração do papa Bento XVI de que o uso da camisinha é justificado em alguns casos foi bem recebida por membros da igreja católica e autoridades de combate à Aids de todo o mundo. Embora a proibição da Igreja Católica Romana à contracepção artificial não esteja em questão, a surpreendente declaração do pontífice pode relançar o debate sobre o assunto.
A agência da ONU contra a Aids, a Unaids, elogiou os comentários do papa, mas alertou que esse foi apenas o primeiro passo na direção de tornar o uso da camisinha aceitável entre os católicos. "Esse é um passo significativo e positivo tomado pelo Vaticano", afirmou o diretor executivo da Unaids, Michel Sidibe, em um comunicado.
"A atitude reconhece que o comportamento sexual responsável e o uso de camisinha têm papel importante na prevenção do HIV", disse.
Shay Cullen, missionário que ajudou crianças vítimas de abuso sexual nas Filipinas, disse que essa foi uma mudança crucial na postura de Bento XVI. "Nós saudamos a mudança de opinião do papa porque ela é destinada a salvar vidas e proteger as pessoas", afirmou. "Nós vemos aqui um papa esclarecido colocando sua preocupação com a vida humana como a principal prioridade", acrescentou.
Caroline Nenguke, da Campanha de Ação e Tratamento, um grupo de defesa das pessoas portadoras de Aids com sede em Cidade do Cabo, África do Sul, considerou as palavras do papa "um passo na direção certa", mas destacou que a mensagem não foi clara e pode levar a erros de interpretação. "A mensagem mostra que apenas homens que trabalham com prostituição devem usar camisinha e isso pode levar as pessoas que têm relações heterossexuais a pensarem que não podem usá-la", disse.
A afirmação de Bento XVI está em um livro que será lançado amanhã. Em entrevista no sábado, o papa reiterou que a camisinha não é uma solução moral controlar a Aids. No entanto, o pontífice acrescentou que em alguns casos, como no de prostitutos, o uso pode representar um passo para assumir responsabilidade "com o objetivo de reduzir o risco de infecção".
O Vaticano assegurou ontem que as palavras do papa Bento XVI sobre o uso do preservativo, não são "uma mudança revolucionária", mas uma "visão compreensiva" para levar a humanidade "culturalmente muito pobre rumos ao exercício responsável da sexualidade".
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, deu um comunicado oficial pelo qual as manifestações de Bento XVI "não reformam ou mudam as doutrinas da Igreja, mas as reafirmam, na perspectiva do valor e da dignidade da sexualidade humana como expressão de amor e responsabilidade".
Lombardi disse que o papa não justifica moralmente o exercício "desordenado" da sexualidade, mas considera que o uso de profilático para diminuir o risco de contágio da aids "é um primeiro ato de responsabilidade, um primeiro passo para uma sexualidade mais humana".
O livro tem como título Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo.
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=889354
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