APRESENTAÇÃO
Está em suas mãos, pela primeira vez na história do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Guia do PNLD 2012 para a área de Filosofa. Este Guia
é o resultado de um longo processo de avaliação, que envolveu diversos atores,
e tem a intenção de auxiliá-lo na delicada e importante tarefa de selecionar
o livro didático que mais bem se adapte ao seu planejamento, à sua prática
didática em flosofa e ao projeto político-pedagógico de sua escola.
Além de conter as Resenhas das obras sugeridas pela equipe do PNLD,
este Guia apresentará algumas informações sobre o Programa, a equipe do
PNLD 2012 de Filosofa, os processos de avaliação e seleção das obras e a
fcha utilizada para este escopo. Ao fnal da leitura deste Guia, você terá as
melhores condições - assim esperamos - para compreender o contexto em que
se dá a escolha de um livro didático e, desta forma, realizá-la de maneira mais
informada e eficaz.
O ENSINO DA FIlOSOFIA NO BRASIL E O LIVRO DIDÁTICO
Desde 1663, ano em que a Filosofa foi pela primeira vez inserida nos
currículos das escolas brasileiras - tratava-se então da primeira escola de
ensino secundário da Companhia de Jesus, na Bahia - a presença da flosofa
na escola brasileira se deu de forma descontínua e frágil.
Mais recentemente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
9.394/96) incorporou os conhecimentos de flosofa como parte dos conteúdos
a serem dominados pelos estudantes ao longo do ensino médio enquanto
“necessários ao exercício da cidadania”. Em 1999, ano em que são publicados
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Médio (1999), os
conteúdos de Filosofa mencionados na LDB de 1996 passam a ser mais bem
especifcados: são aqui considerados como de natureza transversal e, além
disso, as áreas de Ética e Cidadania, que se encontram no âmbito comum das
Ciências humanas e suas tecnologias, são especialmente enfatizadas.
Ainda que estas leis e parâmetros constituam um importante e recente
avanço no sentido de garantir a presença da flosofa na Educação Básica,
a comunidade flosófca nacional começou imediatamente a perceber
que o caráter transversal dos conteúdos flosófcos excluía, de fato, dois protagonistas essenciais, sem os quais o ensino de flosofa não poderia
acontecer e encontrar seu lugar no interior da oferta didática, cada dia
mais ampla e complexa, do currículo do ensino médio: o professor e o livro.
Na prática escolar, de fato, acontecia normalmente que era o professor de
outras disciplinas (“afns”) a desenvolver estes conteúdos transversais; e isso
a partir de uma oferta didática não organizada, isto é sem um livro que o
auxiliasse neste sentido.
Este ensino de flosofa sem professor e sem livro didático, que,
graças ao movimento da comunidade flosófca brasileira e à sen-
sibilidade do poder público, conseguiu reverter-se com o Parecer
nº 38/2006, que foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Nacional
de Educação em 7 de julho de 2006. Com base neste parecer foi apro-
vada recentemente a Lei 11.684, assinada pela Presidência da República
em junho de 2008, que prevê a obrigatoriedade do ensino de flosofa (e
sociologia) nos três anos do ensino médio. Isto signifca que desde o ano
de 2010, concluído o período de implantação e adequação dos sistemas
de ensino à referida lei, a disciplina de flosofa está fnalmente presente em
todas as escolas.
A dimensão deste processo recentíssimo de introdução da flosofa no ensino
médio brasileiro não é evidente a todos. Com ele, o Brasil passa a ser um dos
países com maior presença do ensino de flosofa na formação geral de seus
educandos: são mais de 9 milhões de alunos por ano a ser expostos à flosofa.
Um número certamente invejável por parte de qualquer país ocidental.
Como sempre, a conquista deste espaço traz a responsabilidade para
qualifcá-lo e estruturá-lo da forma mais adequada às necessidades de
formação dos jovens. Estes primeiros anos de consolidação do ensino de
flosofa merecem um cuidado muito especial por parte de todos os atores
neste envolvidos. Trata-se aqui, basicamente, de reiniciar a construção de uma
tradição de didática da flosofa e da defnição de um perfl geral de trabalho
que esteja à altura dos desafos de sua história e dimensão atual.
Tanto a formação dos docentes de flosofa, quanto o delineamento do perfl
geral dessa atividade docente e de seu papel no conjunto da formação dos
alunos, são objeto de intenso debate na comunidade flosófca nacional. Neste
contexto, onde temos um ensino de flosofa que fnalmente pode contar com um
professor especialista no assunto, volta à tona o outro elemento historicamente
ausente no ensino médio público brasileiro: o livro didático de flosofa.
O livro didático de flosofa é, de fato, um elemento que desempenha um
lugar central no debate sobre a identidade do ensino de flosofa. Mais do que
simples suporte ao trabalho docente nos mais diversos contextos e regiões do
país, o livro didático se torna roteiro de trabalho, material de apoio, interlocutor
do docente na sua concepção das práticas de ensino de flosofa. Através dele
o professor debate com os especialistas a atividade de docência em flosofa,
sustenta histórica e teoricamente sua atuação em sala de aula, recebe materiais
de apoio e textos, encontra alternativas de abordagem dos temas e dos roteiros
de cursos.
Mas o livro didático de flosofa torna-se também livro que encontrará, daqui
em diante, seu lugar nas estantes de grande parte das prateleiras das casas
brasileiras: ao lado dos outros livros didáticos, será referência fundamental
não somente de escolarização, mas de cultura em geral.
A CENTRALIDADE DO PNLD E A DEFINIÇÃO DOS SEUS OBJETIVOS
É nesse contexto que se insere o livro didático de flosofa para o ensino
médio, constituindo-se como mais uma ferramenta de apoio ao desenvolvimento
do processo educativo com vistas a assegurar tanto o trabalho com os eixos
cognitivos comuns às áreas do conhecimento, como a articulação entre ciência,
cultura, trabalho e tecnologia nesta etapa da educação básica.
A seleção dos livros didáticos em geral baseia-se no Edital do PNLD 2012,
que defniu critérios que representam um padrão consensual mínimo de
qualidade para as obras didáticas. A avaliação das obras didáticas inscritas no
PNLD 2012 foi realizada considerando tanto critérios comuns a todas as áreas
como critérios específcos para cada área e componente curricular.
A importância desta primeira seleção de livros didáticos de flosofa reside
fundamentalmente na falta de uma tradição anterior consolidada de livros
didáticos da área. Desta forma, a defnição dos critérios específcos para a
área de flosofa contou, de um lado, com debates sobre ensino de flosofa
anteriormente existentes, consolidados em documentos da área e nas OCEMs
de Filosofa, e, do outro, com um conjunto qualifcado e diversifcado de
docentes e pesquisadores empenhados tanto nestes debates como na própria
prática do ensino de flosofa.
DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Para além dos critérios gerais do PNLD 2012, que dizem respeito à
caracterização do que seja uma obra didática, os princípios que orientaram
a avaliação dos livros didáticos de flosofa compartilham com as disciplinas
da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias o objeto comum de estudos
FIlOSOFIa 9das “sociedades humanas em suas múltiplas relações”, analisado a partir de
dimensões flosófcas, espaciais, temporais e socioculturais. Conceitos como
relações sociais, natureza, cultura, território, espaço e tempo são elementos
estruturadores dessas disciplinas e atuam como corpo conceitual aglutinador
dos estudos da área. Esses conceitos constituem ferramentas de trabalho
para a análise dos contextos sócio-históricos, bem como para a compreensão
das experiências pessoais, familiares e sociais dos estudantes, a partir da
contribuição específca de cada uma das quatro disciplinas que a compõem:
Filosofa, Geografa, História e Sociologia.
O caráter da componente curricular Filosofa, todavia, exigiu critérios ainda
mais específcos, que constituíram os princípios básicos de avaliação dos livros
didáticos. Tais critérios tiveram como eixo norteador aquilo que denominamos
de História da flosofa.
Por não ser um saber que tem por marca a evolução, como ocorre, por
exemplo, com a área das biológicas, a flosofa se constitui e se alimenta
a partir de sua própria história. Esse lastro histórico estabelece uma íntima
relação entre a flosofa e sua história, de modo que, estudar flosofa é fazer,
ao mesmo tempo, História da flosofa. Como os temas e problemas (o bem, o
mal, a verdade, a justiça, o poder etc.) pensados no presente têm por de trás
deles uma longa história, é com o retorno à tradição e a partir dela que novas
respostas podem ser encontradas, que novos conceitos serão criados, que mais
uma página na história desse saber é acrescentada. É essa especifcidade da
flosofa que exigiu critérios que permitissem preservar aquilo que é intrínseco
ao fazer filosófco.
Um cuidado inicial foi o de se assegurar que a obra que conduzirá o aluno
a um primeiro contato com a flosofa, isto é, com sua história, não contivesse
como diretriz geral uma dogmática ou uma visão de mundo marcada por uma
crença de qualquer ordem. Pois, se assim fosse, de imediato, toda a História da
flosofa receberia um juízo de valor a partir de uma determinada perspectiva,
impossibilitando o contato efetivo do aluno com a multiplicidade do debate
flosófco.
Para evitar sectarismos, que enclausurariam o pensamento ao invés de
instigar a uma refexão crítica e criativa, uma sólida formação em História
da flosofa tem papel central, pois ela permite ao aluno entrar em contato
com posições, questionamentos e problemas rigorosamente formulados, que
são, no mais das vezes, por paradoxal que isso possa parecer, confitantes
entre si. E esse aspecto paradoxal da História da flosofa é de extrema
importância para que o aluno não encerre seu pensamento numa jaula
dogmática e aprenda a estruturar bem seu raciocínio independentemente
do objeto em questão.
Para garantir a apresentação dos diversos sistemas de pensamento e das
múltiplas facetas da flosofa; para impedir visões monolíticas do fazer filosófico; para poder confrontar posições diferentes rigorosamente estrutura-
das sobre um mesmo tema, sem a tomada de posição por uma delas; para
estimular a criação de enunciados rigorosos e críticos a partir do legado da
tradição sobre temas contemporâneos; para incentivar o contato direto com
os textos flosófcos e com a prática de leitura, assim como para desenvol-
ver competências comunicativas, os critérios específcos para a componente
curricular Filosofa passaram a exigir um material que articulasse temas e
problemas e que se pautasse por essa íntima ligação entre flosofa e a sua
história.
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
O processo de avaliação das obras, que obedece em todas as suas etapas ao
Edital do PNLD 2012, inicia-se com a inscrição das obras por parte das Editoras
interessadas em apresentar propostas de livros. O MEC convida as instituições
universitárias federais e compõe a comissão técnica que acompanhará todo
o processo. Os membros das comissões de área e o MEC realizam diversas
reuniões para tratar da análise das obras e do alinhamento das diversas áreas
aos critérios do Edital.
A coordenação da comissão de Filosofa escolhe a equipe de avaliadores,
constituída por professores do ensino médio e superior públicos, todos eles
com ampla experiência no ensino de flosofa. A equipe se reúne inicialmente
para estudar o Edital e preparar, a partir das indicações nele contidas, uma
Ficha de Avaliação (cf. abaixo), que será utilizada para a avaliação de cada
uma das obras inscritas conforme critérios técnicos gerais. A avaliação dos
livros didáticos e dos manuais dos professores é realizada por uma dupla
de pareceristas. Durante as reuniões fnais de consolidação dos pareceres,
a equipe discute, compara, argumenta e soluciona os problemas levantados
pelos pareceristas em suas análises.
Isso signifca que o destino de uma obra no processo de avaliação é resultado,
tanto pela construção conjunta de instrumentos de avaliação, como por amplos
debates que levam à defnição coletiva dos padrões avaliativos.
Em caso de aprovação, é elaborada a Resenha apresentada neste Guia.
Todo este processo pretende garantir independência e pluralidade:
características fundamentais de uma avaliação que se queira democrática e
efcaz na avaliação de livros didáticos que atendam à exigência do ensino de
flosofa no País.
PERFIL DAS OBRAS SELECIONADAS
Para o PNLD 2012 foram inscritos quinze livros didáticos de flosofa e
aprovados somente três. O índice reduzido de aprovação é uma indicação
clara de que o processo de consolidação de uma tradição de livro didático de
flosofa no Brasil encontra-se num estágio bastante inicial.
De forma geral, as obras que não foram aprovadas revelaram inconsistências
no que tange aos critérios específcos para a componente curricular Filosofa. Várias
delas partem de uma visão restrita da flosofa, não apresentando a multiplicidade
do debate flosófco, que deveria advir de um bom trabalho em História da
flosofa. Por tomarem como fo condutor da obra uma perspectiva sectária (por
exemplo: a superioridade da Idade Moderna ou uma determinada corrente
religiosa), impedem não apenas uma sólida formação em História da flosofa,
como se requer numa obra desse caráter, mas também difcultam a formação de
um espírito crítico, já que a multiplicidade de posições flosófcas não é tida como
constituinte da flosofa, mas como equívoco que deve ser apontado.
Outras obras, por negligenciarem a íntima relação entre a flosofa e
História da Filosofa, resvalam por vezes no senso comum. Ou seja, promovem
uma equiparação entre um pensamento rigorosamente estruturado e a mera
opinião, assim como propagam uma confusão entre uma fala cotidiana e uma
fala conceitual. Com isso, impedem que o aluno possa refetir sobre o seu
contexto de maneira crítica e inovadora.
Várias outras obras, por sua vez, cometem incontáveis erros conceituais.
Apesar de haver uma real possibilidade de interpretações divergentes de um
mesmo tema de um determinado flósofo, o equívoco conceitual, por falta de
precisão teórica e histórica, fcou – no caso dessas obras - fagrante. Assim como
não é possível apresentar uma fórmula matemática com símbolos trocados, não
é aceitável que uma obra incorra em anacronismos conceituais ou equívocos
na apresentação do pensamento de um autor ou de um período.
Muitas outras obras apresentam problemas na sua composição. Falta
de articulação entre as partes do livro; falta de coerência na abordagem
teórico-metodológica, levando à inadequação entre o livro do aluno e o livro
do professor; utilização sistemática e indevida de fontes sem as necessárias
referências; e demais problemas editoriais.
No que diz respeito às obras aprovadas, tudo indica que são trabalhos
consolidados pela prática da sala de aula e com um longo período de
maturação. Sem deixar de se pautar pelas adequações necessárias ao público
a que se destinam, as obras aprovadas não negligenciam a íntima relação
entre a flosofa e a sua história, permitindo assim que o aluno entre em contato
com a estruturação lógica do texto flosófco e que aprenda a construir rigorosa
e criticamente enunciados e argumentações a partir do legado da tradição.
Em suma, apresentam a flosofa em sua multiplicidade, sem dogmatismos ou
proselitismo, propondo uma prática crítica que leve o aluno tomar posição em
meio a um diálogo plural, inclusive nos debates sobre ética.
Essas obras, malgrado suas diferenças de ordem teórico-metodológicas,
permitem que o professor coloque o aluno em contato direto com a flosofa, isto
é, em contato direto com o objeto do conhecimento, de modo que o professor
seja apenas um instrumento que possibilita e facilita o aprendizado. E isto
é feito a partir de estratégias didáticas propostas que dão plena autonomia
ao professor na ordenação dos conteúdos e estimulam a construção de um
percurso dentre vários possíveis no ensino da flosofa.
Elas procuram, por extensão, estimular uma refexão rigorosa, isto é,
conceitual, que não necessariamente se limite ao contexto da flosofa, mas
que possibilite uma autonomia intelectual que leve ao estabelecimento de uma
interlocução com as demais áreas das humanidades, mas também das ciências
e das artes. Com isso, essas obras aprovadas visam a uma formação mais
ampla e cidadã do aluno.
Desse modo, as três obras aprovadas revelam, nas resenhas aqui publicadas,
perfs bastantes diferentes umas das outras. À leitura atenta das resenhas, e
de maneira especial das indicações contidas na seção EM SALA DE AULA, o
professor poderá aliar uma refexão sobre os modos específcos de sua própria
prática docente e as indicações do projeto político-pedagógico de sua escola.
Assim, poderá escolher o livro que melhor se ajusta às suas necessidades e
preferências didáticas.
Sabe-se que não há um livro didático perfeito. Os que aqui se apresentam não
são os melhores livros didáticos de flosofa, em sentido absoluto, e sim aqueles
que, a partir do processo avaliativo acima descrito, resultaram como aqueles que
melhor se ajustam aos critérios de avaliação utilizados no PNLD 2012.
Ao mesmo tempo, a avaliação elaborada pelo PNLD 2012 torna-
se, indiretamente, uma indicação do material didático a ser elaborado e
amadurecido ao longo dos próximos anos, para que a comunidade flosófca
nacional possa apresentar, no imediato futuro, um leque mais amplo de
alternativas de trabalho aos docentes, que melhor se ajustem às suas escolhas
teóricas e metodológicas.
Portanto, o propósito do PNLD 2012 é, em última análise, o de garantir
qualidade na apresentação do debate flosófco, consolidando defnitivamente sua
identidade e seu lugar no contexto do ensino médio no Brasil contemporâneo.
RESENHAS DAS OBRAS
A principal característica da proposta pedagógica da obra está na articulação
dos principais temas do pensamento flosófco com o percurso histórico em
que os mesmos estão inscritos. A seleção dos temas é norteada pelo interesse
de desenvolver nos alunos as competências necessárias para a construção do
pensamento autônomo, da capacidade de argumentação crítica e do exercício
da cidadania. Além de uma criteriosa apresentação dos conteúdos, conforme
a proposta pedagógica acima citada, a obra contém uma grande quantidade
de atividades diversifcadas que visa consolidar a apreensão conceitual e
histórica dos conteúdos desenvolvidos, criar e refnar o uso da linguagem oral
e escrita, assim como articular o conteúdo flosófco da obra nos contextos
pessoal, cotidiano e social do aluno. Percebe-se pela estrutura da obra que
esta dá grande importância ao desenvolvimento da linguagem na formação
do aluno.
DESCRIÇÃO
FILOSOFANDO –
INTRODUÇÃO À FIlOSOFIA
28886L2928
Maria Helena Pires Martins
Maria Lúcia de Arruda Aranha
Editora Moderna
Em sua abertura, o Livro do aluno apresenta sinteticamente o modo pelo
qual a obra está organizada. Sua estrutura básica consiste em 37 capítulos
temáticos, organizados em sete unidades: (1) Descobrindo a flosofa, (2)
Antropologia flosófca, (3) O conhecimento, (4) Ética, (5) Filosofa política,
(6) Filosofa das ciências e (7) Estética. A apresentação dos conteúdos, em
cada capítulo, é intercalada por um conjunto de seções auxiliares: (A)
“Para refetir”: sugestões de refexão sobre temas, ideias gerais, conceitos e
problemas complementares, muitas vezes acompanhadas por propostas de
atividades; (B) “Para saber mais”: informações históricas, defnição de termos,
esclarecimentos gerais, etc.; (C) “Quem é?”: Contém dados biográficos de
autores clássicos e atuais; (D) “Glossário”: breves notas de pé de página que
explicam o signifcado de termos e expressões de uso comum ou flosófco;
(E) “Etimologia”: notícias etimológicas, explicações do signifcado dos termos;
(F) “Leituras complementares”: seleção de textos de autores clássicos, atuais
e de comentadores, a maioria de flósofos, mas também de historiadores e
psicólogos, assim como crônicas e ensaios, acompanhados de questões a serem
respondidas pelos alunos; (G) “Atividades”: Conjunto de atividades no fnal de
cada capítulo, divididas em (i) “Revendo o capítulo”, em que são propostas
questões de compreensão, mais ou menos pontuais, sobre o conteúdo do texto;
(ii) “Aplicando conceitos”, em que são propostas questões mais amplas que
articulam diferentes partes do conteúdo e que relacionam temas e conceitos a
questões gerais, sendo que muitas delas solicitam posicionamento do aluno;
(iii) “Dissertação”, em que são sugeridos temas dissertativos; (iv) “Seminário”,
nos quais são apontados temas para realização de seminários; (v) “Trabalho
em grupo”, em que são feitas sugestões para a realização de pesquisas, textos
e outras formas de produção coletiva; (vi) “Pesquisa e debate”, atividade que
se assemelha à anterior, embora com outra ênfase; (vii) “Painéis”, em que
são sugeridos temas para pesquisa e apresentação escrita e oral; (viii) “Caiu
no vestibular”, em que são apresentadas questões dissertativas e de múltipla
escolha utilizadas em provas de vestibular. Muitas das ilustrações presentes
na obra também são acompanhadas de atividades de interpretação, refexão
e associação com conceitos e ideias flosófcas. A associação de todos esses
elementos resulta em um texto diversifcado que exige a participação ativa do
aluno nas atividades didáticas por meio da intercalação de blocos de texto,
imagens, boxes, atividades e citações.
O Manual do Professor é composto por uma introdução e duas partes
maiores, “O ensino de flosofa” e “A obra na sala de aula”. A introdução
informa as linhas gerais do conteúdo do manual e apresenta um breve histórico
da introdução da flosofa no currículo do ensino médio, destacando alguns
aspectos sociais, políticos e jurídicos envolvidos neste processo. A parte I trata de
temas didáticos ligados ao ensino de flosofa, a saber: (1) “Questões de método
de ensino”; (2) “A flosofa como produto e como processo; (3) “A especifcidade
da flosofa”; (4) “O desenvolvimento de competências”; (5) “Suportes para
leitura e produção de textos”; (6) “A produção flosófca”; (7) “A avaliação”;
(8) “Biblioteca pessoal”; (9) “Conclusão”; (10) “Bibliografa sobre o ensino de
flosofa”. Nesse conjunto de temas articulam-se, em um texto relativamente
coeso, propostas teórico-metodológicas e didático-pedagógicas, ideias sobre
a natureza da flosofa relevantes para a defnição de suas formas de ensino,
uma ampla gama de sugestões de leitura e produção de textos flosófcos,
discussões sobre como realizar a avaliação em flosofa e sobre o papel do livro
no ensino médio. A parte II possui duas seções com propostas de utilização
da obra pelo professor: há sugestões de como utilizar a obra na elaboração
dos programas e na aplicação das atividades, assim como um completo e
detalhado texto de apoio às atividades, contendo soluções comentadas e um
importante conjunto de atividades complementares.
ANÁLISE
A principal característica da obra, do ponto de vista de sua metodologia, está
na concatenação da discussão dos grandes temas, ideias e conceitos da flosofa
com o conhecimento que sua história nos oferece do processo de elaboração
dos mesmos. A exposição obedece sempre ao seguinte desenvolvimento: um
tema é proposto como ponto de partida e como unidade de uma discussão
(por exemplo, a razão); em seguida, são apresentados autores que deram
contribuições flosófcas ao tema no curso da história. A preocupação em
promover a interlocução entre os conteúdos apresentados e os saberes prévios
dos alunos pode ser constatada na clareza da linguagem, na utilização do
material iconográfco e em atividades que articulam os conteúdos apresentados
com a experiência concreta dos estudantes. Sob esse aspecto, a obra propicia
que a refexão dos estudantes sobre a realidade social e cultural do presente
que mobilize aspectos signifcativos legados pela tradição do pensamento
flosófco ocidental.
As atividades fguram ao fnal de cada capítulo. Nelas, são propostas
questões de compreensão do texto, dedicadas a promover a articulação de
diferentes partes do conteúdo e de temas e conceitos com questões mais gerais.
Muitas dentre as atividades solicitam oportunamente um posicionamento
pessoal do aluno, assim como o desenvolvimento de sua prática dissertativa.
Várias ilustrações presentes na obra, bem como nos boxes “Para refetir”, são
acompanhadas de propostas de atividades de interpretação e refexão de
práticas e ideias flosófcas. As atividades de grupo (seminários, pesquisa e
debate, painéis) são apresentadas de forma contextualizada, em relação tanto
aos temas gerais quanto aos conteúdos mais específcos dos mesmos, facilitando
assim sua realização. Questões de vestibular são igualmente contempladas.
Os conceitos são apresentados de forma precisa e adequada. O exame dos
temas evita corretamente a forma compartimentalizada: muitos conceitos são
discutidos em mais de um capítulo e sob diferentes perspectivas temáticas e
históricas.
A concepção didática subjacente à obra pauta-se pelo cuidado de apresentar
conceitos, ideias e doutrinas flosófcas, situando-os no contexto histórico em
que foram produzidos. A obra representa a diversidade das posições flosófcas
e convida o aluno a refetir criticamente sobre as mesmas. Com o intuito de
promover uma prática flosófca que tenha efeitos reais na formação do aluno,
a obra destaca o caráter plural da flosofa, especialmente quando examina
questões éticas difíceis ou polêmicas.
A obra também proporciona uma razoável formação em história da flosofa,
de modo a estabelecer, através desta, um diálogo entre a flosofa e outras áreas
da cultura (especialmente a arte). A exposição da história da flosofa também
é feita integrando elementos textuais e contextuais, a saber, combinando
aspectos da história, da biografa dos autores e da cultura da época, com
uma discussão de sistemas e noções flosófcas apoiada em textos clássicos e
de intérpretes da flosofa. Dessa forma, o aluno recebe um texto didático em
que a filosofa aparece organicamente integrada à sua história, exigindo que
sua aprendizagem dependa do contato direto com os textos clássicos e com
um modo específco de ler e interpretar tais textos. Com tais preocupações em
vista, a obra também é apropriada para desfazer certa opinião comum pela
qual a flosofa se esgotaria no debate espontâneo de opiniões originadas
no cotidiano, sem alguma referência à tradição de campos de problemas
que consolidam, há mais de dois milênios, o debate flosófco. Este debate é
apresentado na forma de respostas sistemáticas a problemas que afetam e
são afetados por nossa vida concreta, tanto individual como coletiva. Com
tal opção didático-pedagógica, a obra adota a orientação pedagógica do
ensino como desenvolvimento de competências sem diminuir a importância
do ensino de conteúdos.
O Manual do Professor explicita os pressupostos teórico-metodológicos
que fundamentam sua proposta de ensino. Tais pressupostos baseiam-se na
concepção de que o ensino de flosofa é tanto produto, quanto processo de
aprendizagem, o que exige que o professor desempenhe mais o papel de
mediador do que aquele de mero transmissor de conteúdos. A obra pretende
viabilizar didática e pedagogicamente seus pressupostos teóricos, (a) tornando
a sala de aula um espaço para o pluralismo intelectual, comunicativo e ético;
(b) utilizando os conteúdos flosófcos como ocasião para o desenvolvimento de
competências que permitam que o aluno flosofe por si mesmo; (c) questionando
os problemas do cotidiano com o intuito de, a partir da realidade da sala de
aula, estimular a curiosidade dos alunos; (d) levando o aluno a desenvolver a
disciplina intelectual que o estudo da flosofa exige, e que é necessária para
a sustentação argumentativa de posições. O Manual do Professor também
apresenta um importante conjunto de atividades complementares juntamente
com a solução comentada das atividades propostas no Livro do aluno. Ele
oferece, ainda, sugestões de diferentes formas de avaliação e estimula o
professor a aprofundar sua formação em flosofa e a compreensão do modo
adequado de ensiná-la, sugerindo referências bibliográfcas de qualidade que
o auxiliam nesse sentido.
O texto está associado, em pontos estratégicos, a um conjunto diversifcado
de elementos complementares: boxes explicativos, pinturas, fotografas,
gravuras, tiras de jornais, desenhos, charges e diagramas.
EM SALA DE AULA
Ainda que a contextualização histórica e social dos conceitos, informações
e procedimentos esteja adequada, o professor notará, em alguns momentos,
que o compromisso da obra com a história da flosofa termina por fazer
sobressair, na apresentação dos problemas, certo teor descritivo. O professor
poderá, por vezes, sentir-se insufcientemente subsidiado na tarefa de
examinar analiticamente os textos flosófcos apresentados, para poder, por
sua vez, orientar os alunos a enfrentarem o conjunto de questões e atividades
concernentes à compreensão dos conteúdos.
A linguagem, embora muito clara, é exigente na exposição dos conteúdos,
demandando do professor e do estudante a refexão rigorosa própria à flosofa.
Os capítulos sobre lógica merecem especial atenção neste quesito. Quanto à
organização da obra, visto tratar-se de livro único para as três séries do ensino
médio, sua boa utilização requer, por parte do professor, uma intervenção
destinada a defnir, com precisão didática, a articulação entre suas partes, de
forma a elaborar os programas de cada uma das séries. A maneira pela qual
os capítulos se interconectam na obra exige, assim, que o professor construa
possibilidades de utilização da mesma, atendendo ao contexto educacional em
que se vê inscrito.
FUNDAMENTOS DE FIlOSOFIA
28895L2928
Gilberto Cotrim
Mirna Fernandes
Editora Saraiva
VISÃO GERAL
A obra propõe múltiplos temas e debates flosófcos, todos apresentados em
linguagem clara, objetiva e acessível. Sua estrutura permite, de certo modo,
tanto uma leitura sequencial das unidades e capítulos, quanto uma diversifcada
e criativa priorização e hierarquização dos conteúdos a serem estudados,
demandando do professor um maior cuidado na seleção, articulação e ensino
do material a ser explorado.
A obra traz um amplo espectro de atividades propostas e uma boa bibliografa
complementar. Vale-se de quantidade relevante de textos selecionados de
flósofos, de comentadores e de autores de diversas áreas do conhecimento.
É, em razoável proporção, equilibrada na distribuição dos conteúdos tratados,
oferecendo ao leitor contato com alguns dos mais importantes aspectos
constitutivos da tradição flosófca.
O Manual do Professor, por sua vez, apresenta tópicos introdutórios sobre a f-
losofa e a educação, o ensinar a flosofar, o papel do professor e do livro didático,
além de tratar de temas de natureza didático-pedagógica, como interdisciplinari-
dade e contextualização. Ele traz ainda a proposta da obra, uma visão de conjunto
de sua estrutura, estratégias de uso da obra, sugestões pedagógicas adicionais e
tópicos sobre trabalhos com iconografa, literatura fccional e flmes, assim como
textos complementares e indicações bibliográfcas para o professor.
DESCRIÇÃO
O livro do aluno é dividido em quatro grandes unidades. A obra se inicia
por uma “Introdução ao Filosofar” (Unidade 1), composta por quatro capítulos,
que trata de temas essenciais da flosofa, tais como o conceito de felicidade,
o exercício flosófco da dúvida, o diálogo enquanto método flosófco e a
consciência enquanto objeto flosófco. Aqui o leitor travará um primeiro
contato com o modo pelo qual a flosofa se constrói, a sua razão de ser e
alguns dos princípios metodológicos que a sustentam enquanto uma forma de
pensamento crítico e racional.
A Unidade 2, intitulada “Nós e o Mundo”, abrange outros cinco capítulos.
Neles vemos contemplados alguns aspectos flosófcos relacionados a diversas
visões de mundo, bem como sua relação com o contexto histórico em que se
situa (a metafísica como busca da realidade essencial, primeiras cosmogonias,
as metafísicas gregas clássicas, noção de cosmos, dissolução do cosmos,
monismo, dualismo e pluralismo), o debate entre materialistas e idealistas (o
dualismo cartesiano, o materialismo mecanicista, o idealismo absoluto) e a
concepção do mundo contemporâneo (reducionismo materialista, enfoques
não reducionistas, o papel do observador). Nesta unidade, analisa-se também
o “Ser humano” a partir de abordagens diversas, como a antropológica, a
linguística e a gnosiológica.
A Unidade 3, cujo título é “A Filosofa na História” apresenta, em seis
capítulos, importantes problemas, autores e idéias da flosofa ocidental. Os
capítulos são organizados em sequência histórica, qual seja: dois sobre Filosofa
Antiga, sendo um sobre o período pré-socrático (a passagem do mito ao logos,
mitologia grega, pólis e razão, os pensadores de Mileto, Pitágoras, Heráclito,
a Escola de Eléia, Empédocles, Demócrito) e outro que trata de Sócrates, dos
Sofstas, de Platão, de Aristóteles e das flosofas helenísticas (Epicurismo,
Estoicismo, Pirronismo, Cinismo); um sobre a Filosofa Medieval, destacando
em seus três tópicos a relação entre Filosofa e Cristianismo (fé versus razão),
a Patrística (Santo Agostinho) e a Escolástica (Santo Tomás de Aquino); dois
capítulos sobre a Filosofa Moderna sendo que o primeiro aborda a novidade
da ciência moderna e o racionalismo (o Renascimento, Francis Bacon, Galileu,
René Descartes, Espinosa, Pascal) e o segundo, o Empirismo (Hobbes, Locke,
Berkeley, Hume) e o Iluminismo (Montesquieu, Voltaire, Diderot, D’Alembert,
Rousseau, Smith, Kant) ; dois sobre a Filosofa Contemporânea, sendo um
dedicado à flosofa no século XIX (a expansão do capitalismo e os novos ideais,
Augusto Comte, o Idealismo Alemão, Karl Marx, Friedrich Nietzsche) e o outro
ao século XX (uma era de incertezas, o Existencialismo de Husserl, Heidegger
e Sartre, a Filosofa Analítica de Russell e Wittgenstein, a Escola de Frankfurt,
com Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin, Marcuse e Habermas, e a Filosofa
pós-moderna, com Michel Foucault, Jacques Derrida e Jean Baudrillard).
Na Unidade 4, “Grandes Áreas do Filosofar”, subdividida em quatro capítulos, o
livro passa a considerar a flosofa a partir de uma abordagem fundamentalmente
temática, trazendo ao leitor algumas discussões centrais sobre ética (distinção entre moral e ética, a moral e o direito, a moral e a liberdade, a liberdade e
a responsabilidade, a ética na história, assim como algumas concepções de
flosofa moral defendida por flósofos no decorrer dos séculos, por exemplo),
política (conceitos de política, formas de poder, a origem e a função do Estado,
a política na história, entre outras), ciência (defnição de ciência, objetivos da
ciência, método científco, a transitoriedade das teorias científcas, a ciência na
história, por exemplo) e estética (a defnição do belo, a experiência do prazer,
interpretações idealistas e empiristas do belo, entre outros tópicos).
Há, ao longo do livro, partes intituladas “Análise e entendimento”, que
propõem diversos exercícios de compreensão dos conteúdos apresentados, e
outras, denominadas “Conversa flosófca”, que sugerem caminhos alternativos
de refexão crítica sobre os temas debatidos. Ao fnal de cada capitulo o livro
traz ainda uma sessão de “Sugestões de flmes”, com dicas de produções
cinematográfcas de algum modo relacionadas aos conteúdos tratados, e
tópicos “Para pensar”, que sugerem diversos textos complementares para
leitura e novas propostas de exercícios.
Vale notar ainda que ao fnal da Unidade 1 o livro apresenta um “Quadro
sinótico I – Divisão da história da flosofa” e um “Quadro sinótico II – Grandes
áreas do flosofar”. E que ao fnal da Unidade 4, o livro traz um “Quadro
sinótico III – Noções básicas de lógica clássica”, um “Índice de conceitos e
nomes” e uma “Bibliografa”.
O livro do professor possui a mesma estrutura do livro do aluno. A diferença
entre eles fca por conta de um “Apêndice” no qual se encontra o “Manual do
Professor” propriamente dito. Este manual possui 96 páginas, compostas por
nove grandes divisões.
O tópico 1 traz a relação Filosofa/Educação (Ensinar a flosofar, Papel do
professor, Papel do livro didático, Interdisciplinaridade e contextualização). O
tópico 2 apresenta a proposta da obra e a sua estrutura compositiva (Estrutura
da obra, Estrutura dos capítulos). O tópico 3 apresenta possíveis estratégias de
uso da obra (Estratégias possíveis) e o 4 traz sugestões pedagógicas adicionais
(Trabalho interdisciplinar, Trabalho com iconografa, Trabalho com literatura
fccional, Trabalho com flmes). Encontram-se ainda, no livro do professor,
sugestões para avaliação pedagógica (tópico 5), textos complementares
(tópico 6), indicações bibliográfcas para o professor (tópico 7), respostas das
atividades propostas (tópico 8) e bibliografa (tópico 9).
ANÁLISE
No que diz respeito à metodologia de ensino/aprendizagem, a obra valoriza de
modo sufciente a diversidade temática própria da especulação flosófca ocidental,
oferecendo ao aluno uma efetiva possibilidade de contato com um bom número
de fragmentos selecionados de textos clássicos de flósofos e de comentadores
relevantes. Note-se, no entanto, que, no que diz respeito à História da Filosofa (tal
como registrada na Unidade 3), a obra exigirá do professor um esforço adicional
de estratégia didática. De fato, por se tratar de um relato um tanto “enciclopédico”
– no qual os flósofos e suas respectivas doutrinas são elencados por ordem
cronológica –, o trabalho com essa Unidade deverá estabelecer diálogo constante
com conteúdos temáticos de outras unidades da obra, para que o estudante
produza, de fato, um exercício de refexão flosófca sufcientemente crítico.
A obra reproduz muitas fontes iconográfcas, mas pouco as explora
didaticamente. De fato, algumas delas dialogam de forma precária com a
temática própria de cada tópico em que estão inseridas, exigindo do leitor
um exercício de livre imaginação, em alguns casos, não pouco signifcativo.
Também aqui, vale dizer, por isso mesmo, o professor deverá ter um cuidado
adicional, no sentido de relacionar os diversos recursos iconográfcos com os
temas aos quais devem se referir.
A linguagem usada na construção do texto-base e dos exercícios propostos
é clara, didática e objetiva. Tal característica contribui para que os estudantes
possam se apropriar dos conteúdos com relativa autonomia e, ao mesmo tempo,
depõe a favor da ideia de que, não obstante a complexidade que lhe caracteriza,
a flosofa é acessível aos que se esforçam minimamente em compreendê-la.
Vale dizer, aliás, que a presença de textos de flósofos colabora no oferecimento
de uma justa “tensão” entre a linguagem coloquial do livro e a técnica própria
da fraseologia flosófca, algo com que o aluno deverá lidar com desenvoltura.
O professor encontrará no Manual um útil instrumento para o uso da
obra, com sugestões didáticas sobre o que, como e quando avaliar, textos
complementares à sua formação (fragmentos selecionados de textos que
ilustram e enriquecem os conteúdos tratados no livro do aluno), respostas
aos exercícios propostos nos diferentes capítulos (sugestões de respostas para
respostas pessoais e respostas objetivas para questões igualmente objetivas)
e indicações bibliográfcas próprias para o professor. Vale dizer, a propósito
das sugestões pedagógicas adicionais, que o livro propõe alternativas para
um trabalho interdisciplinar (como, por exemplo, projetos de pesquisas que
impliquem no diálogo entre a flosofa e as outras disciplinas ministradas na
escola, propostas de seminários temáticos comuns, exposições e discussões
que envolvam outras áreas do conhecimento).
EM SALA DE AULA
Além da necessidade de estabelecer uma mais bem articulada interconexão
entre elementos da História da Filosofa e os blocos temáticos do livro, o
FIlOSOFIa 25professor poderá sentir também a pontual necessidade de complementar com
outras leituras e materiais os tópicos que compõem a obra. Chama especial
atenção, a este propósito, o ensino de noções de lógica, que no livro, vem
registrado tão-somente num “quadro sinótico”, com pouquíssimo conteúdo
(técnico ou histórico) relativo ao tema e sem articulação alguma com as demais
temáticas desenvolvidas ao longo da obra. Em geral, o quadro em questão
(que tem cinco páginas) traz, em sucintas frases e esquemas gerais, uma visão
sobremaneira elementar, não problematizada e precária da lógica (vale dizer,
uma página importante da especulação flosófca no ocidente e instrumento
por excelência do pensar).
A signifcativa quantidade de textos clássicos de flosofa reproduzidos na
obra constitui, por sua vez, um elemento didático fundamental. O professor
poderá explorar amplamente a presença de tais textos, tanto em atividades
indicadas pela obra quanto em exercícios pensados por ele próprio.
INICIAÇÃO À FILOSOFIA
28898L2928
Marilena Chauí
Editora Ática
VISÃO GERAL
A estrutura da obra cumpre um propósito eminentemente didático. Na sua
primeira metade, ela esclarece os conceitos básicos da flosofa, constituídos
e desenvolvidos ao longo de sua história, e apresenta o arco das disciplinas
fundamentais da história da flosofa. Já a segunda metade é concebida com o
intuito de fornecer uma explicitação abrangente da intersecção do pensamento
flosófco com diferentes esferas da experiência humana. Em cada um de suas
unidades, a obra procura apresentar ao aluno uma refexão flosófca que
se constrói sistematicamente, tanto a partir da referência à sua experiência
cotidiana e sociocultural quanto mediante a reconstituição do desenvolvimento
histórico de cada tema em diferentes perspectivas e concepções flosófcas.
Preservando a precisão conceitual indispensável à flosofa, a obra tem sempre
em vista o vínculo entre os conteúdos flosófcos e a experiência cotidiana do
aluno, promovendo a refexão crítica e apresentando a flosofa como uma
atividade racional que dialoga com outros saberes e práticas. Os elementos
gráfcos são bem inseridos e permitem uma fecunda exploração didática. O
Manual do Professor, por sua vez, explicita a orientação pedagógica, e oferece
um plano de curso e um roteiro de aula muito úteis para o professor.
DESCRIÇÃO
O Livro do Aluno é organizado em duas partes, “A atividade teórica” e “A
atividade prática”, cada uma com seis unidades. .A primeira parte inicia-se com
o tema “A flosofa” (Unidade I). Ao delinear preliminarmente a atitude flosófca,
o signifcado geral da flosofa, sua origem, seus períodos, os campos da
investigação flosófca ocidental, seu nascimento na Grécia clássica, os principais
períodos da história da flosofa e as linhas de força do discurso flosófco
contemporâneo, a obra não esquece, a cada passo, de vincular os conteúdos aos
elementos vivenciais cotidianos. A Unidade II, “A razão”, discute as modalidades
da atividade racional, a controvérsia em torno do caráter inato dos conceitos e o
signifcado assumido pela atividade racional no debate flosófco contemporâneo.
A Unidade III, “A verdade”, propõe uma discussão sobre o conceito de verdade,
sublinhando sua importância diretiva para a constituição do discurso flosófco
e para a abordagem flosófca do problema do conhecimento. A Unidade IV, “A
lógica”, considera o surgimento da lógica no pensamento clássico grego e propõe
uma sistematização dos elementos da lógica clássica, sempre em íntima relação
com temas paralelos da história da flosofa. A Unidade V, “O conhecimento”,
sustenta uma discussão sobre os elementos constituintes da abordagem flosófca
do problema do conhecimento, relacionando-o à percepção, à memória, à
imaginação e à linguagem. A Unidade VI, “A metafísica”, conclui a primeira
parte da obra, propondo uma refexão sobre a história de constituição e as
motivações do discurso metafísico: a partir de uma abordagem sistemática da
metafísica aristotélica, investiga como esta última é assimilada e transformada
em certos contextos do discurso flosófco contemporâneo.
A segunda parte é aberta pela Unidade VII, “A cultura”, e toma como ponto
de partida as impressões imediatas sobre os objetos da cultura, para em
seguida discutir o tratamento flosófco destes. A Unidade VIII, “A experiência
do sagrado”, propõe uma refexão abrangente, balizada por elementos
históricos, acerca da experiência religiosa. A Unidade IX, intitulada “As artes”,
propõe uma refexão flosófca sobre a produção artística, relacionando a arte
à religião e aos processos históricos e econômicos, em particular à constituição
do mundo burguês e ao aprimoramento da racionalidade técnica. A Unidade
X, “A ética”, discute a especifcidade de noções como as de ética e moral,
percorrendo suas variações temáticas na flosofa ocidental e refetindo sobre
diversas concepções flosófcas de liberdade. A Unidade XI, “A ciência”, tem por
objetivo delinear uma compreensão do que se constituiria como uma atitude
científca frente ao mundo, apresentando uma investigação da ciência em seu
desenvolvimento histórico e uma refexão sobre a especifcidade das ciências
humanas, a partir do contexto cultural em que aparecem, e as tendências
investigativas mais contemporâneas. A Unidade XII, “A política”, conclui a obra
tratando de questões e motivações gerais da flosofa política. O itinerário
proposto promove uma caracterização geral do âmbito político ancorada
no nascimento das concepções políticas ocidentais na Grécia clássica e uma
discussão comparativa das infexões históricas da flosofa política, bem como
considera os desafos enfrentados pela cultura democrática contemporânea,
especialmente a brasileira.
O Livro do Aluno oferece em cada um dos capítulos um conjunto de atividades
propostas que compreende: questões de verifcação da aprendizagem
do conteúdo apresentado, atividades de leitura e interpretação de textos
complementares (“Diálogos flosófcos”) e atividades de refexão e debate
sobre temas e aspectos da cultura contemporânea, sobretudo a brasileira (“A
flosofa nas entrelinhas”). Cada um dos capítulos do Livro do Aluno exibe uma
mesma estrutura, composta por um texto-base, questões para resposta e uma
indicação de flme.
O Manual do Professor está dividido em doze tópicos de caráter teórico-
metodológico, que incluem a explicitação da orientação pedagógica e dos
objetivos gerais e específcos, um plano de curso e um roteiro de aula, atividades
complementares, uma discussão sobre os procedimentos de avaliação, indicações
de leitura para o aluno e para o professor e uma bibliografa. Além desses tópicos,
o Manual contém as respostas das questões formuladas no Livro do Aluno. As
atividades complementares visam ao aperfeiçoamento da capacidade individual
de interpretação e produção de textos e ao aprofundamento da refexão crítica,
sobretudo através de debate em sala de aula de temas de natureza sociocultural
e ético-política. Com apoio no texto-base, essas atividades estão intrinsecamente
conectadas tanto com os objetivos gerais quanto com os específcos da obra,
contribuindo diretamente para o seu cumprimento.
ANÁLISE
A obra pretende realizar três objetivos gerais: (i) apresentar os conceitos
fundamentais da flosofa, em sua origem e desenvolvimento históricos, como
ferramentas de formação de uma atitude flosófca; (ii) contribuir para a refexão
sobre a relação entre concepções flosófcas e vida cotidiana; e (iii) desenvolver
o pensamento crítico sobre questões contemporâneas de forma a capacitar
o aluno ao exercício da solidariedade comunitária e da cidadania social. Em
geral rigoroso e argumentativo, o texto didático prima pela contínua passagem
entre o domínio da refexão sistemática, reconstituído a partir da história dos
conceitos e problemas flosófcos, e o das vivências cotidianas e culturais,
tornando, assim, os conteúdos flosófcos a princípio complexos e abstratos
em algo acessível aos alunos, sem, para isso, incorrer em simplifcações
grosseiras.
Quanto ao seu conteúdo teórico-conceitual, a obra apresenta os conceitos
flosófcos de forma contextualizada e precisa. Ela aposta na ideia de que, em
flosofa, a compreensão adequada do signifcado de um conceito é, em geral,
facilitada pelo exercício da capacidade de investi-lo de um sentido concreto a ser
reconhecido na experiência cotidiana, tanto individual como coletiva. .A obra
também consegue evitar a usual e nociva compartimentalização da flosofa e
de seus conceitos. Apesar da densidade conceitual do seu conteúdo, ela não
enseja especialização precoce na área, o que não seria condizente com o ensino
médio. De fato, os conteúdos, por mais complexos e profundos que possam
ser, são sempre resgatados em seu sentido mais próximo da experiência do
aluno. A densidade conceitual da obra justifca-se, sobretudo, pela tentativa de
restituir à flosofa a sua especifcidade como disciplina, tratando, para tanto,
dos conceitos flosófcos de forma a respeitá-los em sua natureza própria.
A concepção flosófca subjacente à obra se caracteriza pelo entendimento
da flosofa como atividade racional de refexão e argumentação, sistemática
na proposição e organização dos conceitos, historicamente determinada e
consagrada ao diálogo com outros discursos. Essa concepção é sufcientemente
ampla e rigorosa para abarcar diversas manifestações do pensamento
flosófco preservando as características e limites de cada uma. Dessa maneira,
a obra sustenta e promove a flosofa como pensamento crítico, não apenas no
sentido da aptidão para discernir, confrontar e decidir entre as mais diversas
perspectivas e concepções flosófcas, mas também no sentido da capacidade
de refetir sobre a relação entre a própria flosofa e outros saberes e práticas.
Apesar de sucinto na apresentação da proposta pedagógica, o Manual do
Professor explicita e fundamenta com clareza os objetivos gerais e específcos que
se procura cumprir. O Livro do Aluno segue rigorosamente a proposta descrita
no Manual do Professor, demonstrando a validade da proposta pedagógica
por meio de sua execução consistente. Ademais, o Manual do Professor propõe
um cronograma de trabalho para os três anos do Ensino Médio e um roteiro de
aulas que articula os diversos capítulos, ambos bastantes úteis como orientação
ao professor.
Os conteúdos gráfcos (fotografas jornalísticas e artísticas, reproduções
de quadros clássicos da pintura, tiras de quadrinhos e esquemas) obedecem
em geral às funções de ilustrar um conceito ou fato referido no texto-base,
de contribuir para a contextualização de certo conteúdo flosófco e de servir
ao enunciado de alguma questão ou proposta de tarefa. Muitas vezes as
legendas das ilustrações trazem consigo um breve comentário, que sugere
uma associação fecunda entre a imagem apresentada e o conteúdo conceitual
a ser explicado.
Considerando-se o uso da obra em sala de aula, pelo grau de profundidade
e sofsticação que a mesma apresenta, o professor deverá atuar decididamente
como mediador do processo de aprendizagem dos alunos. Além de uma
formação sólida em flosofa para os alunos do ensino médio, a obra estimula um
diálogo profícuo com as outras áreas disciplinares por meio do desenvolvimento
de temas transversais. Mais ainda, a obra contribui, indiretamente, para a
formação continuada do professor, provendo uma variada gama de indicações
para o aprofundamento dos temas e dos percursos didáticos propostos.
Fonte: http://www.fnde.gov.br/index.php/pnld-guia-do-livro-didatico
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