sábado, 23 de outubro de 2010

A razão e os sentidos

Poderíamos intitular este capítulo "As aventuras e as desventuras da razão humana". Ou ainda, "Que certezas temos de nossas certezas?". Pois ele trata de acompanhar quais caminhos a razão percorreu, que obstáculos encontrou, como se desiludiu consigo mesma  algumas vezes e como quis até mesmo cometer suicídios em momentos de crise. Mas ela ainda permanece como elemento de nosso possível conhecimento do mundo, embora tenha inimigos ferrenhos, que a declaram morta e enterrada. Entretanto, essa situação é curiosa: só se desconstrói a razão argumentando contra ela, usando instrumentos críticos. E o que são o argumento e a crítica senão operações da razão?
A Filosofia sempre buscou respostas  para muitas questões cruciais da vida humana, do próprio ser humano e das coisas. Mas também sempre foi palco de questionamentos a respeito da sua própria maneira de indagar. E mais: teve a honestidade de se perguntar se as maneiras de abordar a realidade eram realmente eficazes. Não basta procurar verdades, é preciso saber se são verdades de fato ou mesmo se é possível encontrar verdades.
Como consequência das buscas por respostas mais racionais, surgiram diferentes sistemas de pensamento; nasceu a Ciência, como a conhecemos no Ocidente e, ainda, diversas concepções de Ciência. Por outro lado, como resultado das críticas à razão, enfraqueceu-se a Filosofia, e quase pôde se extinguir a Ciência. No mundo contemporâneo, há uma relativização de qualquer certeza, mesmo científica. Muitas vezes, a razão teve tanta preponderância, julgou-se tão poderosa, que se tornou dogmática, imobilizando o conhecimento. De outras vezes - e é um m omento destes que vivemos -, a razão ficou tão desprezada, que se declara a nossa impossibilidade radical de se conhecer algo. Corremos então o risco de nos imobilizar.
E, em relação às disputas, aos namoros e às rupturas entre a razão e a fé? Esse é um tema de grande interesse para a Filosofia, pois ao contrário do que se possa pensar, essa ainda é uma questão inquietante no mundo contemporâneo. O que ocorreu com uma é totalmente irracional? Ela não se torna fanática e cega? Mas a razão tem argumentos para andar ao lado da fé? É possível um diálogo construtivo entre as duas? Ou serão elas inimigas irreconciliáveis?
Outra relação importante é a da razão e dos sentidos. Vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos, saboreamos - o nosso contato com as coisas do mundo é sensorial. Esse fato levou muitos filósofos a indicarem os sentidos como fonte exclusiva de nosso conhecimento do mundo. Outros entenderam que os sentidos captam o real, mas nem por isso a razão fica excluída, pois ela organiza as informações diversas que nos chegam pelos sentidos e sem ela não haveria o conhecimento de fato. (Fonte: Incontri, Dora; Bigheto, Alessandro Cesar. Filosofia - Construindo o pensar, volume único. São Paulo. Escala Educacional, 2008, p. 95-96).

A Filosofia, desde os gregos, se questiona sobre o seu próprio saber e o saber das coisas. Onde são evocados a razão e os sentidos como formas de atingir esse saber. Aristóteles, na sua Metafísica, disse que o homem deseja conhecer. A curiosidade é própria do ser humano e foi a partir dessa curiosidade que o construiu todo o conhecimento que temos do mundo e do próprio homem.
Mas, o conhecimento só será considerado como um problema propriamente filosófico a partir da modernidade. Como o período medieval relegou a razão o papel de serva da fé, a Filosofia não tinha espaço para se preocupar com tal questão. No mundo moderno, a Filosofia retoma o problema do conhecimento levantado pelos sofistas na Grécia antiga.
Como se dá o conhecimento? Como conhecemos verdadeiramente as coisas, o mundo, e mesmo, o homem?
É possivel conhecer a realidade na sua essência? Qual a origem a fonte do conhecimento verdadeiro? Para responder tais questões surgiu um ramo da Filosofia denominado de Teoria do Conhecimento.
Para que ocorra o conhecimento é preciso um Sujeito cognoscente (aquele que conhece) e um Objeto cognoscível (a ser conhecido). Na Teoria do Conhecimento, os filósofos ora dirão que a razão, própria do sujeito que conhece, será a fonte do conhecimento verdadeiro ficando conhecida como racionalismo, ora dirão que os sentidos e a experiência do objeto é que serão a fonte do conhecimento verdadeiro inaugurando o empirismo.
Como representante maior do racionalismo temos Descartes, filósofo e matemático, que através da dúvida metódica chega às ideias claras e distintas de tudo o que conhece e a defesa das ideias inatas. Através dessa dúvida conclui: "Penso, logo existo".
Já com relação ao empirismo temos John Locke que afirma que a nossa mente ao nascermos é como uma "tábula rasa", uma folha de papel em branco, onde as nossas experiências sensoriais irão ser impressas. O destaque maior nessa corrente de pensamento é para os sentidos. Conhecemos através dos sentidos.

Francis Bacon é um dos filósofos modernos que mais contribuiu para a teoria do conhecimento assumir o lugar central do pensamento moderno. Em sua obra Novum Organum, aprofunda a investigação sobre a capacidade humana para o erro e a verdade. Uma das grandes contribuições de Bacon é sua formulação sobre a teoria da indução, a qual a partir de sua obra ganha uma eficácia e amplitude maior no debate sobre o método nas ciências modernas. A indução baseia-se na construção do conhecimento que parte da experiência da realidade, a partir da observação direta dos objetos de estudo.
Outro filósofo que podemos destacar é David Hume que se opôs tanto a Descartes quanto a Locke. Seu ceticismo (corrente de pensamento que afirma que não podemos conhecer) dissolvente provocou uma crise sem precedentes na história do pensamento humano. Poderíamos dizer que ele foi uma edição atualizada de Pirro ou de algum cético da Antiguidade, pois Hume renega a razão, descarta Deus e dissolve a metafísica. Mas ele também limita o empirismo, pois considera que as impressões que recebemos por meio dos sentidos não podem nos levar a formar ideias abstratas e a coordenar conhecimentos - essas são impressões esparsas. Hume ataca a identidade racional do ser, porque diz que a mente é apenas uma junção de persepções, imagens e memórias. E o que podemos perceber da realidade não constitui um conhecimento, mas uma probabilidade. Só há uma coisa necessariamente verdadeira: a Matemática. Para Hume, em seu Tratado da natureza humana, o ser humano é muito mais instinto e sentimento do que razão.
Mas para solucionar o impasse entre o empirismo e o racionalismo temos um filósofo que colocou a razão num tribunal e questionou sobre os alcances e limites da razão para conhecer. Esse filósofo é Immanuel Kant, mas falaremos sobre ele nos próximos capítulos.

Questões para debate:
1. Por que os autores do texto acima falam que o título poderia se chamar "As aventuras e desventuras da razão humana"?

2. Que ramo da Filosofia se preocupa com o problema do conhecimento? Justifique.

3. Explique como se dá o conhecimento humano.

4. Qual a origem, a fonte do conhecimento segundo o racionalismo e o empirismo? Você concorda com o racionalismo ou com o empirismo? Justifique.
5. Por que David Hume não concorda nem com racionalismo nem com o empirismo?



2 comentários:

Elano Mota 2° a eliezer de freitas disse...

1. Por que os autores do texto acima falam que o título poderia se chamar "As aventuras e desventuras da razão humana"?

Por que o texto retrata todos os caminhos que a razão percorreu, os obstáculos encontrados por ela.

2. Que ramo da Filosofia se preocupa com o problema do conhecimento? Justifique.

Teoria do Conhecimento. A teoria diz que para haver o conhecimento precisa de um sujeito cognoscente (que conhece) e um objeto cognoscível (a ser conhecido)

3. Explique como se dá o conhecimento humano.

o conhecimento humano se deu através de sua curiosidade que gerou todo o conhecimento existente hoje em dia


4. Qual a origem, a fonte do conhecimento segundo o racionalismo e o empirismo? Você concorda com o racionalismo ou com o empirismo? Justifique.

Racionalismo: diz que a razão é própria do sujeito que conhece, será a fonte do conhecimento verdadeiro

Empirismo: diz que os sentidos e a experiência do objeto é que será a fonte do conhecimento verdadeiro


Eu concordo com o empirismo por que eu acho que o verdadeiro conhecimento humano se da com a sua experiência, pois a experiência é sinônimo de conhecimento.


5. Por que David Hume não concorda nem com racionalismo nem com o empirismo?
Por que ele renega a razão, deus e a metafísica, e limita o empirismo pois ele considera que as impressões que recebemos por meios dos sentidos não nos leva a formar idéias

Anônimo disse...

Gildennes Sousa, Nº 13, 2º ano A. Eliezer de freitas Guimarães

1-Por que fala do caminho percorrida pela razão humana, os desafios, obstáculos, criticas enfrentada por ela.
2-Teoria do Conhecimento. Fala que para haver o conhecimento é precisa de um sujeito cognoscente que conhece e um objeto cognoscível a ser conhecido.
3-Se dá atraves de sua curiosidade.
4-Racionalismo: a razão é própria do sujeito que conhece, será a fonte do conhecimento verdadeiro.
Empirismo: os sentidos e a experiência do objeto é que será a fonte do conhecimento verdadeiro.
eu concordo com o empirismo, porque o conhecimento vem da experiência do dia-a-dia, não só no dia-a-dia. Mas a pessoa deve ir á procura do conhecimento.
5-pois Hume renega a razão, descarta Deus e dissolve a metafísica. Mas ele também limita o empirismo, pois considera que as impressões que recebemos por meio dos sentidos não podem nos levar a formar ideias abstratas e a coordenar conhecimentos essas são impressões esparsas.