quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Classes Sociais, Estratificação e Mobilidade Social

Todos sabemos, pela própria experiência do dia-a-dia, que nossa sociedade apresenta contradições e desigualdades. Nas grandes cidades, por exemplo, ao lado de mansões luxuosas encontramos favelas e pessoas morando embaixo de viadutos. Vivemos, portanto, em uma sociedade profundamente desigual.
Se quisermos fazer uma descrição desse tipo de sociedade, podemos trabalhar com o conceito de estratificação social. Mas se nosso objetivo for analisar historicamente os conflitos entre os diversos grupos que a compõem, devemos recorrer ao conceito de classes sociais.
Seja qual for o método escolhido, é preciso levar em conta também que alguns indivíduos ou mesmo grupo de pessoas podem mudar de posição social. Para estudar esses casos utilizamos o conceito de mobilidade social.
Estratificação, classes e mobilidade social. Iremos estudar estes três conceitos.

Fonte: Oliveira, Persio Santos de. Introdução à Sociologia. Ed. Ática, 25ª ed. 2004.

Questões objetivas:

1. O que entendemos por distribuição dos indivíduos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura social. A essa descrição denominamos de:
a) ( ) classe social
b) ( ) mobilidade social
c) ( ) estratificação social
d) ( ) divisão social

2. São tipos de estratificação social, exceto:
a) ( ) estratificação econômica
b) ( ) estratificação política
c) ( ) estratificação profissional
d) ( ) estratificação religiosa

3. Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcançar, com o decorrer do tempo, uma posição social mais elevada. Esse fenômeno é conhecido como:
a) ( ) estamentação
b) ( ) mobilidade social
c) ( ) estratificação social
d) ( ) castação

4. Sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade e empregando todos os esforços, o indivíduo não consegue alcançar uma posição social mais elevada. Esse tipo de sociedade é conhecida como:
a) ( ) classe social
b) ( ) castas sociais
c) ( ) estamentos sociais
d) ( ) feudamismo

5. No capitalismo moderna, a sociedade é dividida em:
a) ( ) classe social
b) ( ) mobilidade social
c) ( ) estratificação social
d) ( ) estamento social

6. Em 2009, uma emissora de TV brasileira exibiu, no horário nobre, uma telenovela chamada Caminhos da Índia que mostrava um pouco dos costumes e hábitos dos indianos. Como está organizada a sociedade indiana?
a) ( ) classe social
b) ( ) castas sociais
c) ( ) estamentos sociais
d) ( ) estados sociais

7. A pirâmide social da sociedade estamental durante o feudalismo europeu apresentava no alto a/o:
a) ( ) servo
b) ( ) camponeses livres e baixo clero
c) ( ) comerciantes
d) ( ) nobreza e alto clero

8. Conceito fundamental de Marx no entendimento da sociedade capitalista:
a) ( ) harmonia de classes
b) ( ) luta de classes
c) ( ) divisão de classes
d) ( ) manipulação de classes

9. Quais são os dois grupos antagônicos na sociedade capitalista?
a) ( ) patrícios e plebeus
b) ( ) burgueses e proletários
c) ( ) senhores e servos
d) ( ) livres e escravos

10. Entre a burguesia e o proletariado existem outros grupos que se movem entre as duas classes fundamentais, oscilando de uma para a outra. Como são denominados genericamente esses grupos?
a) ( ) classes altas
b) ( ) classes médias
c) ( ) classes baixas
d) ( ) classes intermediárias

A Crise da Ciência e a Epistemologia Contemporânea

A descoberta do método científico no século XVII aumentou a confiança do homem na possibilidade de a ciência conhecer os segredos da natureza. A confiança baseia-se na profunda crença na ordem e racionalidade do mundo.
O método aqui em questão é o experimental que consiste em etapas: primeiro, a observação; em seguida, a hipótese; o controle experimental; e, por fim, a generalização.
O método científico se aperfeiçoa, se universaliza e serve de modelo e inspiração a todas as outras ciências particulares que vão se destacando do corpo da “filosofia natural”. É interessante notar que a ligação inicial entre filosofia e ciência persistiu por muito tempo na nomenclatura dos cientistas. Não raro se encontravam livros com o título “filosofia natural” para se referir à física. Até hoje há reminiscências na classificação das “Faculdades de Filosofia”, onde se estuda não só a própria filosofia, mas também matemática, física, química etc. Além disso, a graduação do aluno que faz tese de doutoramento em qualquer área é conhecida como PhD, ou seja, Philosophiae Doctor.
Os resultados obtidos por Galileu na física e na astronomia, bem como as leis das órbitas celestes de Kepler e os dados acumulados por Tycho-Brahe possibilitaram a Newton (1642-1727) a elaboração do primeiro exemplo de teoria científica encontrado na ciência moderna: a teoria da gravitação universal. As leis formuladas anteriormente referiam-se apenas a aspectos particulares dos fenômenos considerados. O sistema newtoniano cobre a totalidade de um certo setor da realidade e, portanto, realiza a maior síntese científica sobre a natureza do mundo físico.
Segundo o professor Maurício Rocha e Silva, “em determinado momento de suas elucubrações juvenis, Newton teve subitamente a idéia de uma força de atração de todos os corpos no universo, e o seu gênio foi capaz de deduzir dessa simples possibilidade as leis da gravitação universal, segundo as quais a força de atração é proporcional às massas e inversamente proporcional ao quadrado das distâncias. Com essa formulação básica e os postulados da inércia, pôde derivar um novo sistema do universo que encerrou, para o mundo científico, a antiga controvérsia de saber se o sistema de Copérnico era melhor ou mais verdadeiro do que o de Ptolomeu, se Aristóteles tinha mais razão do que Galileu ou se a condenação deste último foi justa ou injusta. As leis do universo podiam ser deduzidas de um punhado de axiomas ou postulados de maneira análoga à geometria de Euclides ou à estática de Arquimedes.
Até o século XIX o desenvolvimento da ciência tinha sido tão grande que o homem estava convencido da excelência do método científico para conhecer a realidade. Filosofias como o positivismo de Comte e o evolucionismo de Spencer traduziam o otimismo generalizado que exaltava a capacidade de transformação humana em direção a um mundo melhor. A educação, antes baseada exclusivamente na cultura humanística, é reformulada visando a inclusão dos estudos científicos no currículo escolar, a fim de atender a demanda de técnicos e cientistas decorrente do avanço da tecnologia.
No entanto, ainda no século XIX e no início do século XX, algumas descobertas golpearam rudemente as concepções clássicas, originando o que se pode chamar de crise da ciência moderna. São elas as geometrias não-euclidianas e a física não-newtoniana.
Os postulados da geometria plana que conhecemos foram estabelecidos por Euclides no século III a.C. Dentre os postulados euclidianos, o quinto enuncia que “por um ponto do plano pode-se traçar uma e uma só paralela a uma reta do plano”. Ora, em 1826 o matemático russo Lobatchevski construiu um modelo de geometria que partia de outro enunciado segundo o qual “por um ponto do plano pode-se traçar duas paralelas a uma reta do plano”. Em 1854, o matemático alemão Riemann usou o modelo em que “por um ponto do plano não se pode traçar nenhuma paralela a uma reta do plano”.
Os novos modelos não anulavam a geometria euclidiana, mas faziam desmoronar o critério de evidência em que os postulados euclidianos pareciam repousar. Como conseqüência, seria preciso repensar a “verdade” na matemática, que dependia do sistema de axiomas inicialmente colocados e a partir do qual poderiam ser construídas geometrias igualmente coerentes e rigorosas.
Esses esquemas operacionais diferentes podem se revelar de grande fecundidade: a teoria da relatividade generalizada de Einstein não se explica pela geometria euclidiana, mas se traduz muito bem na proposta de Riemann. É fácil imaginar o impacto das novas descobertas para o homem, cujo universo de percepção imediata é euclidiano...
Ainda no século XIX, em pleno cientificismo, o homem estava ciente da sua capacidade de conhecer o mundo pela ciência, cujas teorias pareciam adequar-se perfeitamente à realidade percebida pelos sentidos. A física newtoniana era considerada a imagem absolutamente verdadeira do mundo, tendo como pressupostos o mecanicismo e o determinismo. Se pudéssemos conhecer as posições e os impulsos das partículas materiais num dado momento, poderíamos, segundo a hipótese de Laplace, deduzir pelo cálculo toda evolução posterior do mundo.
Na década de 1920, no entanto, descobertas de De Broglie no campo da física quântica, considerando o elétron um sistema ondulatório, permitiram a Heisenberg a formulação do princípio da incerteza. Segundo esse princípio, é impossível determinar simultaneamente e com igual precisão a localização e a velocidade de um elétron.
O aparecimento desse “irracionalismo” na ciência foi um duro golpe na exaltação positivista do século XIX.
Não só esses fatos desencadearam uma crise na ciência. Outros pensadores já tinham posto em dúvida os métodos das ciências da natureza: Duhem (1861-1916), Poincaré (1853-1912), Mach (1838-1916).
Poincaré, afirmando que “as teorias não são nem verdadeiras, nem falsas, mas úteis”, quer mostrar que a crença na infalibilidade da ciência é uma ilusão.
O que ocorre no início do século é uma necessidade de reavaliação do conceito de ciência, dos critérios de certeza, da relação entre ciência e realidade, da validade dos modelos científicos.
Os pensadores do chamado Círculo de Viena tentaram salvar as bases da ciência moderna. Sua intenção era investigar até que ponto as teorias, através da análise da sua estrutura lógica, têm probabilidade ser verdadeiras, formado em 1928 por Carnap, Schlick, Hahn e Neurath, o Círculo de Viena sofreu influência de Wittgenstein e da lógica matemática de Russell e Whitehead. Esses autores representam a tendência neopositivista, ou do empirismo lógico.
Nas suas teorias a experiência e a linguagem se completam: a experiência é transcrita em forma de proposições, que são verdadeiras enquanto exprimíveis. E as proposições “têm sentido” enquanto mensuráveis (tudo o que não é mensurável não tem sentido).
Refletindo a influência positivista, os lógicos do Círculo de Viena têm a convicção de que a lógica, a matemática e as ciências empíricas esgotam o domínio do conhecimento possível. O princípio de verificabilidade, identificando significado e condições empíricas de verdade, excluiu a filosofia do domínio do conhecimento do real.
Mas os grandes críticos da ciência contemporânea são os filósofos Gaston Bachelard (1884-1962), Karl Popper (1902-1994), Thomas Kuhn (1922-1996), Feyerabend (1924-1994) e Lakatos (1922-1974).
A obra bachelardiana pode ser dividida, ainda que de forma didática, em duas: a obra diurna e a obra noturna, como o próprio autor expressa no seguinte trecho da obra Poética do Espaço: "Demasiadamente tarde, conheci a boa consciência, no trabalho alternado das imagens e dos conceitos, duas boas consciências, que seria a do pleno dia e a que aceita o lado noturno da alma". (JAPIASSÚ, 1976, p.47).
Levando-se em conta tal perspectiva do próprio autor, seus analistas passaram a dividir sua obra relativa à epistemologia e história das ciências como diurna e a sua outra faceta, que o remete ao estudo no âmbito da imaginação poética, dos devaneios, dos sonhos, deu-se o adjetivo de obra noturna. Dentre as obras diurnas destacam-se "O novo espírito científico", de 1934; "A formação do espírito científico", de 1938; "A filosofia do não", de 1940; "O racionalismo aplicado", de 1949 e "O Materialismo Racional", de 1952. Dentre as obras noturnas destacam-se "A psicanálise do fogo", de 1938; "A água e os Sonhos", de 1942; "O ar e os sonhos", de 1943; "A terra e os devaneios da vontade", de 1948; "A poética do espaço", de 1957. Pretendemos nos deter na obra diurna de Gaston Bachelard, analisando o potencial metodológico implícito na sua epistemologia e filosofia das ciências, resumida na noção de "construção do objeto científico" e/ou "construção da alma científica (espírito científico)".
A obra bachelardiana encontra-se no contexto da revolução científica promovida no início do século XX (1905) pela Teoria da Relatividade, formulada por Albert Einstein. Todo seu trabalho acadêmico objetivou o estudo do significado epistemológico desta ciência então nascente, procurando dar a esta ciência uma filosofia compatível com a sua novidade. E é partindo deste objetivo que Bachelard formula suas principais proposições para a filosofia das ciências: a historicidade da epistemologia e a relatividade do objeto. Em resumo, a nova ciência relativista rompe com as ciências anteriores em termos epistemológicos e a sua metodologia já não pode ser empirista, pois seu objeto encontra-se em relação, e não é mais absoluto. Nas palavras de Bachelard (1972):
Várias vezes, nos diferentes trabalhos consagrados ao espírito científico, nós tentamos chamar a atenção dos filósofos para o caráter decididamente específico do pensamento e do trabalho da ciência moderna. Pareceu-nos cada vez mais evidente, no decorrer dos nossos estudos, que o espírito científico contemporâneo não podia ser colocado em continuidade com o simples bom senso. (BACHELARD, 1972, p.27)
O "novo espírito científico", portanto, encontra-se em descontinuidade, em ruptura, com o senso comum, o que significa uma distinção, nesta nova ciência, entre o universo em que se localizam as opiniões, os preconceitos, enfim, o senso comum e o universo das ciências, algo imperceptível nas ciências anteriores, baseadas em boa medida nos limites do empirismo, em que a ciência representava uma continuidade, em termos epistemológicos, com o senso comum. A "ruptura epistemológica" entre a ciência contemporânea e o senso comum é uma das marcas da teoria bachelardiana.
Do mesmo modo, segundo Bachelard, dá-se no âmbito da história das ciências. Para ele o conhecimento ao longo da história não pode ser avaliado em termos de acúmulos, mas de rupturas, de retificações, num processo dialético em que o conhecimento científico é construído através da constante análise dos erros anteriores. Nas suas palavras:
O espírito científico é essencialmente uma retificação do saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga o seu passado condenando-o. A sua estrutura é a consciência dos seus erros históricos. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como retificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como retificação da ilusão comum e primeira. (BACHELARD, 1996a, P.120)
Um dos maiores embates de Bachelard foi justamente com aqueles que defendiam o continuísmo, ou seja, que defendiam a idéia de que entre a ciência e o senso comum não existe mais que uma diferença de profundidade, portanto, continuidade epistemológica. Um defensor desta idéia era o filósofo francês Émile Meyerson (1859-1933), para quem a física relativista "é conforme aos cânones eternos do intelecto humano, que constitui não somente a ciência, mas, antes dela, o mundo do senso comum". (JAPIASSÚ, 1976, p.52). Eis resumido neste trecho as proposições contra as quais lutou Bachelard: a perenidade das idéias científicas e a continuidade destas com o senso comum. Para Bachelard, a filosofia das ciências deve progredir conforme os avanços das ciências, realizando constantemente revisões e ajustes em suas concepções. "Todo conhecimento é polêmico. Antes de constituir-se, deve destruir as construções passadas e abrir lugar a novas construções. É este movimento dialético que constitui a tarefa da nova epistemologia". (JAPIASSÚ, 1976, p.53).
A superação do empirismo, para Bachelard, se dá através do racionalismo. A postura epistemológica do novo cientista não se satisfaz com aproximações empiristas sobre os objetos, ao contrário, proclama-se no "novo espírito científico" o primado da realização sobre a realidade. As experiências já não são feitas no vazio teórico, mas são, ao invés disso, a realização teórica por excelência. O cientista aproxima-se do objeto, na nova ciência, não mais por métodos baseados nos sentidos, na experiência comum, mas aproxima-se através da teoria. Isso significa que o método científico já não é direto, imediato, mas indireto, mediado pela razão. O vetor epistemológico, segundo Bachelard, segue o percurso do "racional para o real", o que é contrário à epistemologia até então predominante na história das ciências. Uma das distinções mais importantes, pois, entre as ciências anteriores ao século XX é a superação do empirismo pelo racionalismo. Segundo Bachelard (1972):
Entre o conhecimento comum e o conhecimento científico a ruptura nos parece tão nítida que estes dois tipos de conhecimento não poderiam ter a mesma filosofia. O empirismo é a filosofia que convém ao conhecimento comum. O empirismo encontra aí sua raiz, suas provas, seu desenvolvimento. Ao contrário, o conhecimento científico é solidário com o racionalismo e, quer se queira ou não, o racionalismo está ligado à ciência, o racionalismo reclama fins científicos. Pela atividade científica, o racionalismo conhece uma atividade dialética que prescreve uma extensão constante dos métodos (BACHELARD, 1972, p. 45).
O racionalismo bachelardiano tem um sentido muito próprio que é a preocupação constante com a aplicação. O "racionalismo aplicado", que é uma marca fundamental do "novo espírito científico", atua na dialética entre a experiência e a teoria, o que significa a dupla determinação do espírito sobre o objeto e deste sobre a experiência do cientista. "Impõe-se hoje situar-se no centro em que o espírito cognoscente é determinado pelo objeto preciso do seu conhecimento e onde, em contrapartida, ele determina com mais rigor sua experiência". (BACHELARD, 1977, p.109).
Um outro ponto importante para a compreensão do que chamamos "metodologia bachelardiana", é a sua noção de "obstáculos epistemológicos", tratado, sobretudo, na obra "A formação do espírito científico", de 1938. Bachelard propõe uma psicanálise do conhecimento, em que o seu progresso é analisado através de suas condições internas, psicológicas. Na sua avaliação histórica da ciência, o filósofo francês se vale do que chama de "via psicológica normal do pensamento científico", ou seja, uma análise que perfaz o caminho "da imagem para a forma geométrica e, depois, da forma geométrica para a forma abstrata" (BACHELARD, 1996, p.10-11). A própria concepção de espírito científico nos remete ao universo psicanalítico.
Quanto aos "obstáculos epistemológicos", afirma Bachelard, é através deles que se analisam as condições psicológicas do progresso científico. Nas suas palavras:
É aí que mostraremos causas de estagnação e até de regressão, detectaremos causas da inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos (...) o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. (BACHELARD, 1996, p.17)
A noção de obstáculo epistemológico é de fundamental importância para o desenvolvimento do conhecimento no âmbito das pesquisas. É na superação destes obstáculos que reside o sucesso de uma pesquisa científica. Porém, condição essencial para a superação dos obstáculos é a consciência por parte dos cientistas de que eles existem e que, se não neutralizados, podem comprometer o processo da pesquisa, desde seus fundamentos até os seus resultados. Dentre tantos exemplos citados por Bachelard na obra A formação do Espírito Científico, irei deter-me em dois apenas, que penso serem constantes nas pesquisas: o obstáculo da realidade e o obstáculo do senso comum, da opinião. Para analisar estes obstáculos, pode-se utilizar o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), que construiu na sua obra "A profissão de sociólogo" (1999), uma metodologia para a Sociologia baseada nos princípios da "construção do objeto científico", de Bachelard.
O primeiro obstáculo, a realidade, está inserido na crítica já citada anteriormente a respeito do empirismo. O pesquisador, ao olhar seu objeto de estudo, especialmente quando este faz parte do universo social, como é o caso da educação, pode incorrer no perigo de se deixar levar pelo que lhe é visível, dando a este um estatuto de verdade que ele não tem. Para Bachelard, "diante do mistério do real, a alma não pode, por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um só golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber". (BACHELARD, 1996, p.18). A proposta de Bourdieu é que, para tornar-se objeto científico, a realidade a ser estudada deve passar pelo crivo de uma teoria rigorosamente construída. A realidade nada responde por si mesma. Somente o faz através de questões levantadas teoricamente. Estas observações ganham razão de ser quando nos deparamos muitas vezes com pesquisas da área educacional que se resumem ao relato narrativo de uma determinada situação, geralmente denominado "estudo de caso", sem que este tenha qualquer relação com uma questão geral, teórica. Estas pesquisas, geralmente, constituem-se de um apanhado teórico somado mecanicamente à descrição de uma situação e, por fim, uma consideração final que tenta sintetizar o estudo. Tal método, segundo pensamos, é falho e não consegue revelar o que se pode chamar das "múltiplas relações" inerentes à realidade, contentando-se em descrever tal situação que, por isso, perde muito do seu valor acadêmico, nada acrescentando ao conhecimento acumulado.
O segundo obstáculo epistemológico, o senso comum, semelhante ao primeiro, relaciona-se especificamente com a dificuldade com a qual se depara o cientista social em separar o seu conhecimento comum, suas opiniões, seus preconceitos, as avaliações relacionadas à sua posição social e econômica, etc., do conhecimento teórico, científico, que deve estar comprometido com a busca da verdade, baseada em leis gerais, em conceitos e não em preconceitos. Muitas pesquisas travestem-se de científicas para legitimarem determinados preconceitos, dando a eles credibilidade. Não que se pretenda preconizar a neutralidade científica, como queria o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). A utilização consciente de um método de pesquisa, como a "construção do objeto científico", leva o cientista a chegar mais próximo possível da verdade do seu objeto, sem com isso entender o esgotamento do seu estudo, dada a característica dialética da sociedade e do conhecimento. A realidade social, e a educacional mais especificamente, é objeto de avaliação por todos aqueles que vivem na sociedade, o que torna a tarefa do cientista social ainda mais difícil, pois deve construir seu conhecimento apesar e contra o senso comum; apesar e contra a realidade.
Popper cunhou o termo "Racionalismo Crítico" para descrever a sua filosofia. Esta designação é significante e é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do observacionalismo-indutivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns académicos, incluindo Ernest Gellner, defendem que Popper, não obstante não se ter visto como um positivista, se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva.
Popper argumentou que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efectuada com base naquela teoria se verificaram. Essa teoria deverá gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não) contrariada pelos factos.
O que a experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade da teoria em análise. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se provou falsa e procurar uma outra teoria para explicar o fenómeno em análise.
Alguns consideram este aspecto fulcral para a definição da ciência, chegando a afirmar que "científico" é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os fatos. Ou seja: afirmam que só é científica aquela teoria que possa ser falseável (refutável). Existem críticas contundentes quanto a esse aspecto. Essas remanescem no bojo da própria Filosofia que Popper propõe. E por quê? Ao afirmar que toda e qualquer teoria deve ser falseável, isso se aplica à própria teoria da falseabilidade popperiana. Portanto, a falseabilidade deve ser falseável em si mesma. Diante dessa evidente necessidade - sob a pena de sua teoria ser não-universal e portanto derrogada pela sua imprecisão - poderá existir proposições em que a falseabilidade não é aplicável (vide teorema da incompletude de Kurt Gödel). Nos dias de hoje, verifica-se que o falsificacionismo popperiano não é princípio de exclusão, mas tão somente de atribuição de graus de confiança ao objecto passível do crivo científico.
Para Popper a verdade é inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela por tentativas. O estado actual da ciência é sempre provisório. Ao encontrarmos uma teoria ainda não refutada pelos factos e pelas observações, devemos nos perguntar, será que é mesmo assim? Ou será que posso demonstrar que ela é falsa? Einstein é o melhor exemplo de um cientista que rompeu com as teorias da física estabelecidas.
Popper debruçou-se intensamente com a teoria Marxista e com a filosofia que lhe é subjacente, de Hegel, retirando-lhes qualquer estatuto científico. O mesmo em relação à psicanálise, cujas teorias subjacentes não são falseáveis (refutáveis).
O seu trabalho científico foi influenciado pelo seu estudo da teoria da relatividade de Albert Einstein.
Thomas Kuhn se contrapôs à teoria de Popper, negando que o desenvolvimento da ciência tenha sido levado a efeito pelo ideal da refutação. Ao contrário, a ciência progride pela tradição intelectual representada pelo paradigma, que é a visão de mundo expressa numa teoria. Nas fases chamadas “normais” da ciência, o paradigma (por exemplo, o newtoniano) serve para auxiliar os cientistas na resolução dos seus problemas, e o progresso se faz por acumulação de descobertas.
Mas há situações privilegiadas, de crises, quando o paradigma já não resolve uma série de anomalias acumuladas. Revoluções desse tipo foram operadas por Copérnico, Newton, Darwin, Einstein e Heisenberg.
Seu primeiro livro foi A Revolução Copernicana, publicado em 1957. Mas foi em 1962, com a publicação do livro Estrutura das Revoluções Científicas que Kuhn se tornou conhecido não mais como um físico, mas como um intelectual voltado para a história e a filosofia da ciência.
Em uma entrevista cedida à filósofa italiana Giovanna Borradori, no ano de 1965, em Londres, Thomas Kuhn explica sinteticamente seu percurso acadêmico até a construção deste texto, que se tornaria o referencial de discussão entre os filósofos da ciência. Sua carreira inicia-se como físico e, até a defesa de sua tese de doutorado, tinha tido poucos contatos com a filosofia. Sua justificativa para este pouco contato com a filosofia é fundada principalmente na ocorrência da Segunda Guerra Mundial, pois havia, segundo ele, uma enorme pressão para empreender carreiras científicas e um grande desprezo em relação às matérias humanísticas.
Todavia, foi na Universidade de Harvard, quando teve que preparar um curso de ciências para não cientistas, que pela primeira vez, ele utilizou exemplos históricos de progressos científicos. Dessa experiência, Kuhn percebeu que a o desenvolvimento da ciência, numa perspectiva histórica, era muito diferente da apresentada nos textos de Física ou mesmo de Filosofia da Ciência. O livro Estrutura das Revoluções Científicas foi, então, um texto produzido e direcionado a um público filosófico, mesmo não sendo um livro de filosofia. Isso porque, conforme ele mesmo dizia, Kuhn criticava o positivismo sem conhecê-lo em profundidade, assim como não se sentia influenciado pelo pragmatismo de William James e John Dewey.
A repercussão do seu livro foi tão grande na comunidade acadêmica que, já na segunda edição, em 1970, Kuhn apresentou um pós-escrito, no qual seus pontos de vista são, em alguma medida, refinados e modificados. E, para responder às acusações de irracionalismo, ele escreve, em 1974, um ensaio intitulado Reconsiderando os paradigmas e, logo depois, desenvolve com maior profundidade as descontinuidades históricas, que foram apresentadas em outro livro chamado Teoria do corpo negro e descontinuidade quântica - 1894-1912, publicado em 1979.
A polêmica sobre a obra de Thomas Kuhn gira em torno da noção de paradigma científico e da "incomensurabilidade" entre os paradigmas. Ken Wilber defende (em seu livro A União da Alma e dos Sentidos) que a idéia de paradigmas proposta por Kuhn tem sido apropriada e abusada por grupos e indivíduos que tentam fazê-la parecer uma declaração de que a ciência é arbitrária. Entretanto, a obra de Kuhn abriu espaço pra toda uma nova abordagem de estudos chamados Social Studies of Science(estudos sociais da ciência) que desembocou no Programa Forte da Sociologia.
Especula-se que Kuhn tenha se apropriado de muitas das idéias de Ludwick Fleck (como paradigma, revolução paradigmática, ciência normal, anomalias, etc), médico polonês que pouco escreveu sobre história da ciência e que permaneceu e permanece desconhecido de muitos.
Se Popper afirmou que a ciência é racional, na medida em que critica as suas teorias (ideal de refutabilidade), e Kuhn argumentou que uma teoria, como paradigma, deve na maior parte do tempo ser desenvolvida em vez de criticada, outros, como Lakatos e Feyerabend, tentam harmonizar esses pontos de vista.
Feyerabend cedo abandonou o empirismo, classificando-se como anarquista epistemológico. Critica as posições positivistas ao considerar que as metodologias normativas não são instrumentos de descoberta e defende o pluralismo metodológico. A famosa afirmação de que “o único princípio que não inibe o progresso é: tudo vale” aparece num livro cujo título sugestivo indica sua posição: Contra o método.
Feyerabend quer dizer que não existe norma de pesquisa que não tenha sido violada, e é mesmo preciso que o cientista faça aquilo que lhe agrada mais. E que deve tornar persuasiva a teoria por recursos teóricos através da propaganda, a fim de melhor convencer a comunidade científica. Ele acha que foi exatamente isto que Galileu fez para convencer a todos acerca da hipótese do movimento relativo.
Em seu livro Against method e Science in a free society, Feyerabend defende a idéia de que não há regras metodológicas que devam sempre ser usadas pelos cientistas. Afirma que a fundamentação prescritiva do método científico limita as atividades dos cientistas e dessa maneira restringe o progresso científico. Desta forma, a ciência se beneficiaria mais com uma "dose" do que chamou de anarquismo teórico. Ele também sugere que o anarquismo teórico é desejável também por ser mais humanitário do que outros sistemas de organização, pois não impõe regras rígidas aos cientistas.
Será que a ciência como a conhecemos hoje, uma "busca pela verdade" no estilo da filosofia tradicional, criará um monstro? Não será possível que uma abordagem objetiva que desaprova contatos pessoais entre entidades irá prejudicar as pessoas, torná-las miseráveis, hostis, criando mecanismos moralistas desprovidos de charme e humor? "Não será possível" pergunta-se Kierkegaard "que minha atividade como um objetivo [ou crítico-racional] observador da natureza enfraqueça meu potencial como ser humano?" Eu suspeito de que a resposta para muitas dessas questões seja afirmativa e eu acredito que a reforma das ciências para torná-las mais anárquicas e mais subjetivas (em um sentido Kierkegaardiano) é urgentemente necessária. (Against method, p. 154).
A posição de Feyerabend é geralmente vista como radical (pela "ordem vigente") na filosofia da ciência, pois implica que a filosofia não consegue prover uma descrição geral da ciência, nem possibilita descobrir um método de diferenciação entre produtos da ciência e entidades não científicas como os mitos. Isso também implica que as recomendações filosóficas podem ser ignoradas pelos cientistas, se o seu objetivo é o progresso.
Para comprovar sua posição de que as regras metodológicas geralmente não contribuem para o sucesso científico, Feyerabend mostra contra-exemplos de que a (boa) ciência opera de acordo com um certo método fixo. Ele examina alguns exemplos de episódios da ciência que são geralmente relacionados como instâncias inegáveis de progresso (e.g. a revolução Copernicana), e mostra como todas as regras prescritivas comuns da ciência são violadas nestas circunstâncias. Além disso, afirma que a aplicação destas regras atualmente afetaria a revolução científica.
Um dos critérios para avaliação de teorias cientifícas que Feyerabend ataca é o da consistência do critério. Insistir que novas teorias sejam consistentes com velhas teorias dá uma vantagem inaceitável à velha teoria. Ele parte da lógica de que sendo compatível com a velha teoria morta não haverá acréscimo de validade ou de verdade à nova teoria no sentido de alternativa pois cobre o mesmo conteúdo. Assim, se alguém tiver que escolher entre duas teorias de igual poder de explanação, escolher a que é compatível com uma [teoria] velha, é fazer mais uma escolha estética do que racional. A familiaridade com uma teoria também é um apelo aos cientistas, pois eles não terão de abrir mão de certos preconceitos, o que proporciona um certo "favoritismo" ao conceito antigo.
Feyerabend criticou também o que chamou de falsificacionismo. Ele argumenta que nenhuma teoria interessante é completamente consistente com todos os fatos relevantes. Isso eqüivaleria a se deixar levar por uma ingênua regra falsificacionista que afirma que teorias científicas devam ser rejeitadas se elas não estão de acordo com os fatos conhecidos. Feyerabend utiliza diversos exemplos mas a renormalização na mecânica quântica fornece uma mostra do seu peculiar estilo provocativo: "Este procedimento consiste em retirar da lista resultados de certos cálculos e substituí-los por uma descrição do que é realmente observado. Assim admite-se, implicitamente, que a teoria está em apuros ao permitir que de uma certa forma seja descoberto um novo princípio". Estas brincadeiras não são empregadas como uma crítica exacerbada da prática dos cientistas. Feyerabend não está afirmando que os cientistas não devam fazer uso da renormalização ou de outros métodos ad hoc. Pelo contrário, ele argumenta que tais métodos são essenciais para o progresso científico por muitas razões. Uma dessas razões é que o progresso na ciência não é uniforme. Por exemplo, no tempo de Galileu, a teoria óptica não poderia explicar os fenômenos observados pelos telescópios. Assim, astrônomos que se utilizaram da observação telescópica tiveram de usar regras ad hoc até que eles pudessem justificar suas suposições por meio da teoria óptica.
Feyerabend foi um crítico de qualquer determinação que pretendesse julgar a qualidade das teorias científicas pela comparação destas com os fatos. Segundo Feyerabend uma teoria estabelecida poderia influenciar a interpretação natural dos fenômenos observados. Os cientistas fazem, necessariamente, suposições implícitas quando comparam teorias científicas aos fatos que observam. As suposições precisam de ser mudadas de maneira a tornar uma nova teoria compatível com as observações. O principal exemplo da influência das interpretações naturais que Feyerabend fornece é o argumento da torre. O argumento da torre é uma das maiores objeções contra a teoria do movimento da terra. Os Aristotélicos supunham que o fato de uma pedra ser jogada de uma torre e cair exatamente abaixo dela demonstraria que a terra é estacionária. Eles pensavam que, se a terra se movesse enquanto a pedra estivesse caindo, ela cairia em posição contrária à do movimento. Os objetos cairiam inclinados em relação ao solo em vez de verticalmente. Visto que isto não ocorre, os Aristotélicos pensaram que esta seria uma evidência de que a terra não se move. Se alguém utilizasse as antigas teorias de impulso e movimento relativo, a teoria copernicana certamente pareceria ter sido falsificada pelo fato de que objetos caem verticalmente na terra. Esta observação requereu uma nova interpretação para torná-la compatível com a teoria de Copérnico. Galileu foi capaz de elaborar uma certa mudança a respeito da natureza do impulso e do movimento relativo. Antes que estas teorias fossem articuladas, Galileu teve de lançar mão de alguns métodos ad hoc e proceder de maneira indutiva. Assim, hipóteses ad hoc atualmente têm uma função positiva: elas fazem uma nova teoria ser temporariamente compatível com os fatos até que a teoria a ser defendida possa ser suportada por outras teorias.
Juntas, estas observações fundamentam a introdução de teorias que são inconsistentes com fatos indubitavelmente estabelecidos. Além disso, uma metodologia pluralística que envolva comparações entre diversas teorias com todas as forças de seus defensores possibilita a articulação de cada teoria. Dessa maneira, o pluralismo científico aumenta o poder de crítica da própria ciência. Assim, Feyerabend propõe que a ciência deve proceder melhor não pela indução, mas pela contra-indução.
De acordo com Feyerabend, novas teorias devem ser aceitas não pelo fato de estarem de acordo com o método cientifico, mas porque seus proponentes podem fazer uso de qualquer artifício – racional, retóricos ou vulgares – no sentido de desenvolver sua causa. Sem uma ideologia fixa ou introdução de tendências religiosas, a única abordagem que não inibe o progresso (utilizando qualquer definição, uma se adapta) é “todas as idéias valem”: “todas as idéias valem” não é um 'princípio'... mas uma exclamação estarrecida de um racionalista que observa a história de perto”. (Feyerabend, 1975).
Feyerabend também refletiu que a possibilidade da incomensurabilidade, uma situação onde teorias científicas não podem ser comparadas diretamente porque são baseadas em suposições incompatíveis, pode não permitir o uso padrões gerais para o estabelecimento da qualidade de teorias científicas. Ele escreveu que “é extremamente difícil dar uma definição explícita da incomensurabilidade” (AM, p. 225), porque isso envolve classificações ocultas e mudanças conceituais maiores. Ele também criticou as tentativas de capturar a incomensurabilidade em uma estrutura lógica, pois a incomensurabilidade seria um fenômeno externo à lógica.
Em Against Method Feyerabend propõe que a filosofia de Imre Lakatos sobre os programas de pesquisa é um 'anarquismo disfarçado', porque não dita ordens aos cientistas. Feyerabend de maneira bem-humorada dedicou Against Method a Imre Lakatos: Amigo e companheiro anarquista”. Uma interpretação é que a filosofia da ciência e da matemática de Lakatos estava baseada em transformações criativas das idéias historiográficas hegelianas, muitas associadas a Georg Lukács, seu professor na Hungria.
Feyerabend descreveu a ciência como sendo essencialmente anarquista, obcecada com sua própria mitologia e proclamadora de verdades muito além de sua capacidade atual. Ele indignou-se especialmente com atitudes condescendentes de muitos cientistas em relação a tradições alternativas. Por exemplo, ele pensava que opiniões negativas a respeito da astrologia e a eficiência de danças da chuva não estavam justificadas por pesquisas cientifícas, e dissimulavam predominantemente atitudes negativas de elitismo e racismo. Em sua opinião, a ciência tornou-se uma ideologia repressiva, muito embora tenha surgido como um movimento de libertação. Segundo o pensamento de Feyerabend uma sociedade pluralística deve proteger-se de ser muito influenciada pela ciência, assim como de outras ideologias. Isso está particularmente presente em "Como defender a sociedade contra a ciência", texto que faz parte de Contra o método mas que também foi publicado à parte. Na verdade, na introdução à "Como defender a sociedade contra a ciência", que por vezes não aparece em algumas publicações, essa questão fica ainda mais nítida. Ali Feyerabend discorre sobre quais as condições que o levaram à produção do texto.
Iniciando com a suposição de que um método científico universal historicamente não existe, Feyerabend argumenta que a ciência não merece o status privilegiado que possui na sociedade ocidental. Uma vez que os pontos de vista científicos não surgem de um método universal que garanta conclusões de alta qualidade, ele sustentou que não há justificação para a valorização científica reivindicada sobre outras ideologias, como as religiões, por exemplo. Argumenta também que conquistas científicas como a chegada do homem à lua não são razão suficiente para dar à ciência um status especial. Em sua opinião, não é justo utilizar suposições científicas para determinar quais problemas merecem ser resolvidos e para julgar o mérito de outras ideologias. Além disso, o sucesso dos cientistas está tradicionalmente envolvido com elementos não-científicos, tais como inspiração a partir de pensamentos míticos ou de fontes religiosas.
Baseado nestes argumentos, Feyerabend defendeu a idéia de que a ciência deve ser separada do estado da mesma maneira que a religião é separada na moderna sociedade secular. Ele vislumbrou uma "sociedade livre" na qual "todas as tradições têm iguais direitos e igual acesso aos centros de poder". Por exemplo, os pais devem ser capazes de determinar o contexto ideológico da educação de seus filhos, em vez de terem suas opções limitadas pelos padrões científicos. De acordo com Feyerabend, a ciência deve também estar sujeita ao controle democrático: não apenas determinar que assuntos devem ser pesquisados através de eleição popular, as suposições e conclusões científicas também devem ser supervisionadas por comitês de pessoas leigas. Segundo ele os cidadãos devem utilizar seus próprios princípios ao tomar decisões a respeito do que realmente importa. Em sua opinião, a idéia de que as decisões devam ser racionalistas é elitista, pois assume que filósofos ou cientistas estão em posição de determinar os critérios pelos quais as pessoas em geral devem tomar suas decisões.

Questões para debate:
1. O que se entende por “método científico”? Quais são as suas etapas?
2. Quais descobertas desencadearam a chamada crise da ciência moderna? Justifique.
3. Explique o princípio de verificabilidade, defendido pelos filósofos do Círculo de Viena.
4. O que Bachelard entende por “obstáculos epistemológicos? Explicite os principais obstáculos da realidade e do senso comum.
5. Por que Bachelard defende a ruptura entre a ciência contemporânea e o senso comum?
6. Qual a crítica de Karl Popper a ciência moderna?
7. Qual a posição epistemológica de Thomas Kuhn com relação a Popper?
8. Explique a crítica de Feyerabend a epistemologia.
9. Qual dos critérios para avaliação de teorias cientifícas Feyerabend ataca? Justifique.
10. Baseado nas posições dos filósofos contemporâneos sobre as teorias científicas como você se posiciona a respeito? Com qual corrente de pensamento você concorda? Justifique.

Questões objetivas:

1. Assinale a alternativa incorreta.
a) ( ) Etimologicamente, método vem de meta, "ao longo de", e hodós, "via, caminho". É a ordem que se segue na investigação da verdade, no estudo feito por uma ciência, ou para alcançar um fim determinado.
b) ( ) Descartes coloca como ponto de partida do seu filosofar a dúvida metódica.
c) ( ) O método experimental desenvolvido pela ciência é constituído de etapas: a observação, o levantamento de hipóteses, que deve ser testado através da experimentação e, por fim, a generalização com a criação de leis gerais.
d) ( ) Galileu Galilei construiu o método científico, mas estava mais interessado em defender o geocentrismo, teoria que afirmava que a Terra era o centro do universo, enquanto o sol e os demais planetas giravam ao seu entorno.

2. Que descobertas do início do século XX golpearam as concepções clássicas de ciência, originando a chamada crise da ciência moderna?
a) ( ) o geocentrismo, de Ptolomeu e o heliocentrismo, de Copérnico.
b) ( ) as geometrias não-euclidianas e a física não-newtoniana.
c) ( ) a física quântica e o big bang.
d) ( ) nenhuma das respostas acima porque a ciência nunca entrou em crise.

3. Alguns filósofos colocaram em dúvida os métodos das ciências naturais, dentre eles Duhem, Poincaré e Mach. Sobre isso é correto afirmar:
a) ( ) Poincaré, afirmava que "as teorias não são nem verdadeiras, nem falsas, mas úteis".
b) ( ) Eles estavam preocupados em afirmar a infalibilidade da ciência.
c) ( ) Sua preocupação girava em torno do mecanicismo e do determinismo.
d) ( ) Esses filósofos ao criticar a ciência moderna terminaram por concordar com a sua aplicabilidade.

4. Corrente de pensamento que criou o princípio de verificabilidade, identificando significado e condições empíricas de verdade, excluindo, portanto, a filosofia do domínio do conhecimento do real. Refletindo a influência positivista, esses pensadores têm a convicção de que a lógica, a matemática e as ciências empíricas esgotam o domínio do conhecimento possível. Podemos chamá-la de:
a) ( ) positivista.
b) ( ) circulo de viena.
c) ( ) fenomenológica.
d) ( ) existencialista.

5. Karl Popper sofreu inicialmente a influência de Carnap e do Círculo de Viena, mas teceu diversas críticas a eles. Para Popper, o cientista deve estar mais preocupado não com explicação e justificação da sua teoria, mas com o levantamento de possíveis teorias que a refutem. Ou seja, o que garante a verdade do discurso científico é:
a) ( ) o paradigma.
b) ( ) o pluralismo metodológico.
c) ( ) a condição de refutabilidade.
d) ( ) o empirismo lógico.

6. A "ruptura epistemológica" entre a ciência contemporânea e o senso comum é uma das marcas da teoria bachelardiana. Do mesmo modo, dá-se no âmbito da história das ciências. Para ele o conhecimento ao longo da história não pode ser avaliado em termos de acúmulos, mas de rupturas, de retificações, num processo dialético em que o conhecimento científico é construído através da constante análise dos erros anteriores. Tal pensamento é atribuído a:
a) ( ) Karl Popper
b) ( ) Lakatos
c) ( ) Thomas Kuhn
d) ( ) Gaston Bachelard

7. Filósofo que cedo abandonou o empirismo, classificando-se como anarquista epistemológico. Critica as posições positivistas ao considerar que as metodologias normativas não são instrumentos de descoberta e defende o pluralismo metodológico. A famosa afirmação de que “o único princípio que não inibe o progresso é: tudo vale” aparece num livro cujo título sugestivo indica sua posição: Contra o método.
a) ( ) Carnap
b) ( ) Feyerabend
c) ( ) Heinsenberg
d) ( ) Russell

8. Filósofo que cunhou o termo "Racionalismo Crítico" para descrever a sua filosofia. Esta designação é significante e é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do observacionalismo-indutivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns académicos, incluindo Ernest Gellner, defendem que ele, não obstante não se ter visto como um positivista, se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva.
a) ( ) Wittgenstein
b) ( ) Laplace
c) ( ) Schlick
d) ( ) Karl Popper

9. Feyerabend propõe que a ciência deve proceder melhor:
a) ( ) indução
b) ( ) dedução
c) ( ) contra-indução
d) ( ) contra-dedução

10. Karl Popper, no seu livro "A lógica da pesquisa científica" diz que "O velho ideal científico da episteme - do conhecimento absolutamente certo, demonstrável - mostrou ser um ídolo. A exigência da objetividade científica torna inevitável que todo enunciado científico permaneça provisório para sempre. Ele, com efeito, pode ser corroborado, mas toda corroboração é relativa a outros enunciados que, novamente, são provisórios". Segundo essa concepção:
a) ( ) a ciência é capaz de explicar tudo através do método científico.
b) ( ) a ciência não é um conhecimento certo e definitivo.
c) ( ) toda ciência é corroborada por outra.
d) ( ) a euforia da infalibilidade da ciência mostrou-se verdadeira.

11. Para Karl Popper, o problema da demarcação consiste em "estabelecer um critério que habilite distinguir entre as ciências empíricas, de um lado, e a Matemática e a Lógica, bem como os sistemas "metafísicos, de outro. (Karl Popper, A lógica da pesquisa científica, São Paulo, Cultrix, 1975, p. 35.)
Considerando o problema mencionado no fragmento de texto bem como a teoria epistemológica popperiana, assinale a opção correta:
a) ( ) a indução estabelece fronteiras claras entre o não científico e o científico.
b) ( ) a certeza científica fundamental é a psicológica.
c) ( ) a comparação lógica da conclusão das teorias e a investigação das formas lógicas das teorias não pode servir como demonstração da correção dessas teorias.
d) ( ) a falseabilidade é critério de demarcação.

12. No que se refere a teoria epistemológica de Gaston Bachelard, assinale a opção correta:
a) ( ) as rupturas epistemológicas constituem a igualdade de interpretação das conclusões de várias teorias científicas.
b) ( ) os filósofos devem encontrar um só ponto de vista para julgar a ciência.
c) ( ) o cientista posiciona-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal feitos, e elaborando outros mais adequados a realidade.
d) ( ) essa teoria adota a filosofia do sim na medida em que recupera a autoridade epistemológica do conhecimento grego antigo.

13. Paul Feyerabend epistemologicamente se opõe a posição autoritária e totalitária da ideologia científica.Com relação a esse assunto, esse autor:
a) ( ) tem uma posição dogmática com relação à física.
b) ( ) defende o método cartesiano nas ciências humanas.
c) ( ) defende a teologia como uma ciência capaz de inspirar princípios para as ciências.
d) ( ) posiciona-se contra o método, por não concordar com a imposição de normas de fora da própria lógica da pesquisa.

Diversidade Cultural Brasileira

Costumamos dizer e ouvir que somos o povo brasileiro! Que vivemos no país do futebol e do carnaval. Pelo menos é assim que nos vêem os outros povos, na maioria das vezes. Contudo, quando somos indagados e questionados sobre nossa identidade nacional, ou seja, que povo realmente somos e, qual o sentido da nossa formação enquanto nação, ficamos na maior "crise de identidade".
Ora, como definir quem somos em meio à diversidade cultural?
A questão é: como viemos, enquanto povo e nação ao longo da história, construindo nossa identidade nacional? Mas, será que temos mesmo uma única e autêntica identidade nacional?
Quando falamos em identidade, logo pensamos em quem somos. Vêm à nossa mente os nossos "dados pessoais", ou seja, a cidade onde nascemos, a data de nascimento, nossa filiação, quem são os nomes de nossos pais, uma foto registrando nossa fisionomia, uma impressão digital, uma assinatura feita por nós mesmos.
E o mais interessante, está ali registrado para todo mundo ver, a nossa nacionalidade, a que nação e povo pertencemos.

Fonte: Sociologia/vários autores. - Curitiba. SEED-PR, 2006, p. 204.

A Democracia

Comecemos com uma constatação: as sociedades com regimes democráticos são exceções na história da humanidade. Por mais que sejamos suficientemente tolerantes quanto ao conceito de democracia, é preciso reconhecer que da sua invenção, por volta do século V a.C. em Atenas, até o século XIX, é possível contar nos dedos os períodos e os lugares onde ela existiu.
Por outro lado, é necessário reconhecer que a partir do século XX a democracia propagou-se em escala mundial, e são vistos com muita estranheza os países com práticas políticas e regimes de governo não democráticos.
Em contrapartida, não se pode deixar de considerar um aspecto fundamental para nossa investigação: o que entendemos e aceitamos como democracia hoje pouco tem a ver com a democracia inventada e praticada pelos atenienses da Antiguidade.
Nosso objetivo é examinar alguns aspectos que acreditamos ser essenciais nas principais concepções modernas e contemporâneas de democracia (concepção liberal; a crítica de Marx e a concepção republicana), assumindo como pressuposto o fato de que a concepção liberal é hegemônica em nossos dias.
Mas, por que o individualismo pode ser um problema para a constituição de uma sociedade democrática? Não seria, o individualismo, a grande marca da modernidade? Não seria pela via da absoluta autonomia do indivíduo que poderíamos alcançar a liberdade política?
Para responder estas questões, é necessário colocar a democracia contemporânea sob análise e, nesse exercício de pensamento, tornar possível a construção de outros sentidos que possam superar aqueles que o senso comum nos oferece de imediato, geralmente derivados da aceitação tácita de uma democracia meramente formal ou mesmo de uma espécie de niilismo político, ambos caracterizados como sucedâneos fraudulentos do ideal democrático.
Assuntos abordados em sequência:
. Modernidade e Individualismo;
. A Concepção Liberal de Política;
. John Locke e Adam Smith: A Propriedade Privada como Fundamento da Liberdade;
. Benjamin Constant: Duas Concepções de Liberdade;
. A Representação Política;
. John Stuart Mill: um liberal que dialogava com o socialismo;
. O Utilitarismo de Mill;
. Sobre Marx e o Marxismo;
. Marx e a Emancipação Humana;
. Feuerbach e o Conceito de Alienação;
. Alienação e Crítica ao Estado de Direito Burguês no Jovem Marx;
. Marx e a Liberdade;
. Republicanismo e a Liberdade antes do Liberalismo;
. Republicanismo: Liberdade como Não-Dominação;
. A Lei como Garantia da Liberdade;
. O republicanismo exige cidadania ativa;
. Orçamento Participativo: A Criação de um Novo Espaço Público.

Fonte: Filosofia/vários autores. - Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 208.

Questões objetivas:

1. É uma criação típica da modernidade. Não é possível compreender a política, o Estado e a idéia de cidadania moderna sem considerar o projeto burguês da autonomia do indivíduo. Tal criação está baseada no:
a) ( ) consumismo
b) ( ) capitalismo
c) ( ) individualismo
d) ( ) socialismo

2. O liberalismo é uma corrente que tem sua aparição no cenário do pensamento político por volta do século XIX, ainda que existam traços das suas idéias fundamentais antes desse período. Podemos considerar como traços fundamentais do liberalismo, exceto:
a) ( ) o liberalismo é definido como um projeto que busca conceber e justificar o Estado de forma leiga (não religiosa).
b) ( ) defende as limitações dos poderes dos governos, visando a proteção dos direitos dos membros da sociedade.
c) ( ) constitui "pura e simplesmente a expressão segundo a qual o poder do Estado deve ser sistematicamente limitado". (PETTIT, 2003)
d) ( ) de acordo, com este último sentido, os liberais afirmam que a verdadeira liberdade depende da maior interferência possível do Estado e das leis.

3. Pensadores que tem na propriedade privada o fundamento da liberdade:
a) ( ) Kant e Hegel
b) ( ) Stuart Mill e Bentham
c) ( ) John Locke e Adam Smith
d) ( ) Rousseau e Wittgenstein

4. Analise as afirmativas e coloque V para verdadeiro ou F para falso:
( ) Adam Smith é um dos maiores representantes do liberalismo econômico clássico.
( ) Smith defende a liberdade irrestrita do comércio, como fator de desenvolvimento e de geração de riquezas das nações e, para tal, não deveria haver qualquer intervenção do Estado. O que Smith propõe é a emancipação da economia em relação às demais esferas da sociedade, sobretudo a política.
( ) Segundo, Smith a economia se tornaria dimensão de referência da realidade, a qual as demais dimensões estariam subordinadas e, na condição de fundamento da prosperidade e das transformações, livre do controle do Estado - laissez faire -, se autoregularia através das dinâmicas próprias de seu fundamento. O controle se exerce basicamente pelo sistema de livre concorrência e da lei da oferta e da procura, denominada a "mão invisível" do mercado.
( ) A defesa da interferência do Estado na economia, a divisão social do trabalho e a mecanização da indústria são os principais elementos do liberalismo econômico.

5. O pensador e político franco-suíço, Benjamin Constant captou e demonstrou com perspicácia a essência da modernidade, no que se refere à política, as relações entre os indivíduos e seus interesses particulares e suas relações com a sociedade. Constant defende:
a) ( ) duas concepções de liberdade, a dos antigos, onde a liberdade consistia na participação na vida pública e a vida no domínio privado, estava necessariamente subordinada à vida política e a dos modernos, onde a liberdade se configura, enquanto exercício de prerrogativas privadas.
b) ( ) uma concepção, onde a liberdade é essencial para a modernidade, mas os antigos não possuíam liberdade.
c) ( ) três concepções: liberdade social, liberdade individual e liberdade civil. A liberdade social se dá no âmbito da sociedade; a individual manifesta os interesses próprios e a civil na garantia dos seus direitos.
d) ( ) na verdade, Benjamin Constant defende o anarquismo social.

6. Montesquieu, em O Espírito das Leis, defende a:
a) ( ) democracia
b) ( ) tirania
c) ( ) aristocracia
d) ( ) monarquia constitucional

7. O liberalismo de John Stuart Mill tem no seu fundamento a moral utilitarista que prega:
a) ( ) a busca da felicidade, do bem comum.
b) ( ) para o utilitarismo, uma ação moral é considerada útili e correta se proporciona felicidade e incorreta e inútil se, pela ausência de prazer, ocasiona a infelicidade.
c) ( ) no pensamento utilitarista, a felicidade baseia-se no prazer.
d) ( ) todas estão corretas.

8. Ainda na juventude Marx (1818-1883) defenderá que a reintegração do homem a si mesmo se daria através de um processo de superação que implicaria na abolição da:
a) ( ) liberdade e do individualismo
b) ( ) propriedade privada e na instalação do comunismo
c) ( ) escravidão e da propriedade privada
d) ( ) direito e na instalação do socialismo

9. Considerando as formas de alienação e de dominação religiosa, política e econômica, pode-se dizer que a questão nuclear da filosofia política do Marx é a:
a) ( ) emancipação política
b) ( ) emancipação humana
c) ( ) liberdade política
d) ( ) liberdade individual

10. Marx faz severas críticas a:
a) ( ) a religião e ao consumismo
b) ( ) a alienação e ao Estado de direito burguês
c) ( ) a ética e ao liberalismo
d) ( ) a cultura e ao individualismo

Autores do pensamento social brasileiro e a contribuição para o debate sobre as questões cotidianas

Pensadores como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Sergio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Roberto da Matta, Francisco de Oliveira, Jose de Sousa Martin, Herbet de Sousa e Fernando Henrique Cardoso são importantes para o debate da formação social do povo brasileiro e da sociologia no Brasil bem como do estudo das questões sociais como desemprego, violência, criminalidade, drogas e sexualidade, preconceito, prostituição, direitos sociais, exclusão social, desigualdade social, fome, miséria, identidade brasileira.

Gilberto de Mello Freyre (Recife, 15 de março de 1900 — Recife, 18 de Julho de 1987) foi um sociólogo, antropólogo, escritor e pintor brasileiro, considerado como um dos grandes nomes da história do Brasil.
Filho de Alfredo Freyre, juiz e catedrático de Economia Política da Faculdade de Direito do Recife e de D. Francisca de Mello Freyre. Descendente de indígenas, espanhóis, portugueses e neerlandeses,Gilberto Freyre inicia seus estudos freqüentando o jardim da infância do Colégio Americano Gilreath, em 1908. Faz seu primeiro contato com a literatura através das As Viagens de Gulliver. Todavia, apesar de seu interesse, não consegue aprender a escrever, fazendo-se notar pelos desenhos. Toma aulas particulares com o pintor Telles Júnior, que reclama contra sua insistência em deformar os modelos. Começa a aprender a ler e escrever em inglês com Mr. Williams, que elogia seus desenhos.
Em 1909 falece sua avó materna, que vivia a mimá-lo por supor ser o neto retardado, pela dificuldade em aprender a escrever. Ocorrem suas primeiras experiências rurais de menino de engenho, nessa época, quando passa temporada no Engenho São Severino do Ramo, pertencente a parentes seus. Mais tarde escreverá sobre essa primeira experiência numa de suas melhores páginas, incluída em Pessoas, Coisas & Animais.
Freyre estudou na Universidade de Columbia nos Estados Unidos onde conhece Franz Boas, sua principal referência intelectual. Em 1922 publica sua tese de mestrado "Social life in Brazil in the middle of the 19th century" (Vida social no Brasil nos meados do século XIX,)dentro do periódico Hispanic American Historical Rewiew, volume 5. Com isto obteve o título Masters of Arts.Seu primeiro e mais conhecido livro é Casa-Grande & Senzala, publicado no ano de 1933. Em 1946, Gilberto Freyre é eleito pela UDN para a Assembléia Constituinte e, em 1964, apóia o golpe militar que derruba João Goulart. A seu respeito disse Monteiro Lobato: O Brasil do futuro não vai ser o que os velhos historiadores disserem e os de hoje repetem. Vai ser o que Gilberto Freyre disser. Freyre é um dos gênios de palheta mais rica e iluminante que estas terras antárticas ainda produziram. Ocupou a cadeira 23 da Academia Pernambucana de Letras em 1986.
Casa-Grande e Senzala, além de um extraordinário ensaio sociológico sobre a identidade nacional brasileira, é uma notável obra literária. Parte do seu prestígio deve-se a suas qualidades estilísticas, ao vigor e brilho com a qual o autor descreve a vida colonial, mas a razão principal que o explica é constituir-se em obra ideológica fundamental da nação brasileira enquanto a define como nação mestiça, fruto da miscigenação do português com o índio e o negro. Freyre descreve com uma infinita riqueza de pormenores alguns aspectos da vida colonial. Sua preocupação básica é com o sexo e a miscigenação, mas ele trata também da vida familiar, da alimentação, da educação, das crenças relacionadas à educação das crianças, e de uma infinidade de outros temas.

A vida ou a formação colonial brasileira é apresentada como “um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura européia e a indígena. A européia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o pária. O bacharel e o analfabeto. Mas predominante sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo”.

Mas não se imagine que dos antagonismos surja a guerra. Pelo contrário, o que temos essencialmente é a harmonia. “Entre tantos antagonismos contundentes, amortecendo-lhes o choque ou harmonizando-os, (temos) condições de confraternização e de mobilidade social peculiares ao Brasil: a miscigenação…” “Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um aproveitamento de valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado”. Não é apenas o nosso caráter mestiço que se legitima. É todo o “caráter” nacional: flexível, harmonioso senão fraterno. Havia por parte das elites brasileiras um complexo de inferioridade de base racista. Gilberto Freyre resgata a miscigenação, e a transforma, com propriedade e coragem, no fundamento da formação social brasileira. E permite que as elites brasileiras passem a se orgulhar de seu “pé na cozinha”. Mas Freyre paga um preço por essa tese. Embora afirme e reafirme que “não nos interessa, porém, senão indiretamente, neste ensaio o aspecto econômico ou político da colonização portuguesa do Brasil”, o fato é que seu livro tem implicações econômicas e políticas profundas. Para afirmar sua tese da harmonia social e racial, Freyre transforma a colonização portuguesa em um grande êxito, e os colonizadores portugueses em heróis que “triunfaram onde outros europeus falharam: de formação portuguesa é a primeira sociedade moderna constituída nos trópicos com característicos nacionais e qualidade de permanência… pela hibridização realizaram no Brasil obra de verdadeira colonização, vencendo as adversidades do clima”.

Freyre mostra a semelhança da colonização portuguesa com a inglesa do Sul dos Estados Unidos (prefácio). Por outro lado, faz a distinção com a colonização inglesa nos EUA, que encontrou clima frio semelhante ao inglês, e a colonização portuguesa que iria enfrentar um clima tropical. E, com brilho, ridiculariza o complexo de superioridade nórdico. Os anglo-americanos, definidos por um certo Bogart como um “virile, energetic people” fracassaram nas suas tentativas de colonização dos trópicos enquanto os “weak, easy loving” portugueses tiveram êxito.

O segundo capítulo, sobre o papel dos indígenas na formação social brasileira permite a Freyre desenvolver sua tese apoiada na miscigenação. A miscigenação continua central, mas, neste capítulo, assume caráter de verdadeira “intoxicação sexual”, que, segundo Freyre, teria caracterizado o primeiro século de colonização.

A idéia geral do capítulo é simples: os homens índios foram inúteis, porque, provindos de povo nômade, e não tendo hábito do trabalho, que era realizado pelas mulheres, não se sujeitaram ou, melhor, não tiveram competência para serem escravos; já as mulheres índias foram muito úteis como procriadoras caboclas. Oferecidas para o colonizador português supriram o grande problema da colonização: a falta de mulheres brancas. Assim, a mulher índia seria a base da família brasileira. Enquanto a contribuição do homem índio para a agricultura foi insignificante.

Freyre não ignora que quem escravizava os índios e os matava eram os portugueses e mamelucos, os bandeirantes paulistas, a serviço dos plantadores de açúcar. Os portugueses legitimaram sua violência contra os índios considerando-os hereges, e chamando-os de “bugres” – que, como ou pior do que o termo “gentio”, estava “impregnado da mesma idéia pegajosa de pecado imundo”. Os portugueses, escravocratas, consideravam os índios escravos “peças”. Freyre admite mesmo que os jesuítas defenderam os índios contra essa violência. Mas insiste no caráter artificial das missões jesuítas. Na passagem de seu trabalho missionário de uma fase heróica para outra comercial. E na sua condenação veemente, inclusive porque nunca defenderam as negras como defenderam as índias.

Na verdade, o partido de Freyre é muito claro: são os senhores de engenho, que, em certos momentos, ele identifica com os cafeicultores. São, portanto, os senhores de escravos. Estes são seus heróis. Estes são seus “aristocratas”: “A colonização do Brasil se processou aristocraticamente”; “O aristocrata brasileiro do litoral de Pernambuco e do Recôncavo…” Quem for de alguma forma contra eles – e os jesuítas o foram – serão seus inimigos.

Freyre distingue os jesuítas das demais ordens. Enquanto os padres destas ordens se acomodam ao domínio e servem os senhores de engenho, participam do processo geral de miscigenação, os jesuítas os desafiam. Freyre observa o fato, e não o perdoa. O trabalho missionário é centrado no curumim, o menino índio. O capítulo tem também interessantíssimas informações sobre natureza de cultura índia, s sobre a influência índia sobre a cultura brasileira.

O terceiro capítulo, O Colonizador Português: Antecedentes e Predisposições, apresenta uma fascinante análise das origens sociais dos portugueses. Mas volta a suas teses centrais – o elogio da miscigenação, o êxito da colonização, as grandes qualidades dos portugueses, o caráter aristocrático da colonização. E faz uma análise equivocada e contraditória da decadência portuguesa, que atribui ao mercantilismo e ao abandono da agricultura. Ora, Portugal só foi grande, no século XV até meados do XVI, enquanto foi a primeira nação burguesa e comercial da Europa. Como ele próprio reconhece, “estancadas as fontes asiáticas de opulência”, o país decai. Não obstante, Freyre insiste no capítulo em criticar a orientação comercial tomada por Portugal. E quem são os culpados? Os judeus: “agrária a sua formação nacional, depois pervertida pela atividade comercial dos judeus e pela política imperialista dos reis”, estes associados aos judeus. (Freyre usa imperialista por colonialista).

Há no capítulo excelente análise da influência árabe e do papel da cultura moçárabe (árabes convertidos ao cristianismo) na cultura portuguesa. Há também o elogio das grandes corporações religiosas, com exceção dos jesuítas.

E há uma frase muito significativa sobre o patrimonialismo burocrático de Portugal, ou de como a monarquia valeu-se de uma classe média de letrados para libertar-se das pressões do clero e dos antigos senhores territoriais. A frase, citada de Varnhagen, é a seguinte: "Essa magistratura letrada, por seu saber, por seus enredos, sua atividade, sua loqüela e a proteção que lhe davam as Ordenações, redigidas por indivíduos de sua classe, vem, pelo tempo adiante, a predominar no país, até alistar-se no número de seus primeiros aristocratas, depois de haver em geral hostilizado a classe antes de chegar a ela.”

Finalmente, há neste capítulo a justificação quase explícita da escravidão. “No caso brasileiro, porém, parece-nos injusto acusar o português de ter manchado, com instituição que hoje tanto nos repugna, sua obra grandiosa (sic) de colonização tropical. O meio e as circunstâncias exigiriam o escravo… Para alguns publicistas foi um erro enorme (escravizar o negro). Mas nenhum nos disse até hoje que outro método de suprir as necessidades do trabalho poderia ter adotado o colonizador português no Brasil… Tenhamos a honestidade de reconhecer que só a colonização latifundiária e escravocrata teria sido capaz de resistir aos obstáculos enormes que se levantaram à civilização do Brasil pelo europeu. Só a casa-grande e a senzala. O senhor de engenho rico e o negro capaz de esforço agrícola e a ele obrigado pelo regime de trabalho escravo”.

Freyre é um mestre da dialética. Esta é provavelmente um dos seus segredos. Uma das razões pelas quais seu ensaio é tão notável. Ele trata de um tema imensamente complexo: a sociedade no Brasil colonial e imperial. E para isto ele faz afirmações contraditórias, mas todas elas com elementos importantes de verdade. Não é apenas que a escravidão é terrível mas necessária. Não é apenas que houve grande harmonia entre brancos e negros. Em tudo a dialética está presente. Mas não se tenha dúvida, uma dialética eivada de ideologia conservadora e justificadora.

Depois de narrar os horrores a que os senhores e, principalmente, as sinhás, infligiam a seus escravos, e de defender as negras e mulatas contra a acusação de terem corrompido os brancos, afirma Freyre com grande clareza: “A verdade, porém, é que nós é que fomos os sadistas, o elemento ativo na corrupção da vida de família; e moleques e mulatas, o elemento passivo”. O que não o impede, algumas páginas além afirmar com toda sem-cerimônia, a “tendência genuinamente portuguesa e brasileira, que foi sempre no sentido de favorecer o mais possível a ascensão social do negro”.

Os dois últimos capítulos de Casa-Grande e Senzala examinam com grande inteligência e riqueza de informações o escravo no vida sexual e de família dos brasileiros. A miscigenação continua central, uma tese interessante é a do caráter de seleção eugênica tomada por ela: os senhores escolhiam as escravas mais sadias e mais bonitas para cruzarem. Os padres, exceto os jesuítas, também procriaram à vontade, produzindo muitas vezes uma elite mulata.

Mas há muito mais nestes capítulos finais: higiene ou sua falta, medicina e saúde, indolência, adoção pelas famílias escravas do nome de seus senhores, o amolecimento da língua portuguesa exemplificado no “me diga” ao invés do “diga-me”, o furor nativista dos senhores adotando nomes indígenas depois da Independência, testamentos, alforrias nos testamentos, enterros, analfabetismo das senhoras e sua virtude (discutível), prostituição das negras a serviço dos senhores. E sobre este tema uma frase notável: “a virtude da senhora branca apóia-se em grande parte na prostituição da escrava negra”.

Fragmento de Casa grande e Senzala

Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo — há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil — a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do africano.

Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo, em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolão de comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do muleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo.

Já houve quem insinuasse a possibilidade de se desenvolver das relações íntimas da criança branca com a ama-de-leite negra muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres de cor no filho-família dos países escravocratas. A importância psíquica do ato de mamar, dos seus efeitos sobre a criança, é na verdade considerada enorme pelos psicólogos modernos; e talvez tenha alguma razão Calhoun para supor esses efeitos de grande significação no caso de brancos criados por amas negras. (…)

É verdade que as condições sociais do desenvolvimento do menino nos antigos engenhos de açúcar do Brasil, como nas plantações ante-bellum da Virgínia e das Carolinas — do menino sempre rodeado de negra ou mulata fácil — talvez expliquem, por si sós, aquela predileção. Conhecem-se casos no Brasil não só de predileção mas de exclusivismo — homens brancos que só gozam com negra. De rapaz de importante família rural de Pernambuco conta a tradição que foi impossível aos pais promoverem-lhe o casamento com primas ou outras moças brancas de famílias igualmente ilustres. Só queria saber de mulecas. Outro caso, referiu-nos Raoul Dunlop de um jovem de conhecida família escravocrata do Sul: este para excitar-se diante da noiva branca precisou, nas primeiras noites de casado, de levar para a alcova a camisa úmida de suor, impregnada de budum, da escrava negra sua amante. Casos de exclusivismo ou fixação. Mórbidos, portanto; mas através dos quais se sente a sombra do escravo negro sobre a vida sexual e de família do brasileiro.

Não nos interessa, senão indiretamente, neste ensaio, a importância do negro na vida estética, muito menos no puro progresso econômico, do Brasil. Devemos, entretanto, recordar que foi imensa. No litoral agrário, muito maior, ao nosso ver, que a do indígena. Maior, em certo sentido, que a do português.

Florestan Fernandes (São Paulo, 22 de julho de 1920 — São Paulo, 10 de agosto de 1995) foi um sociólogo e político brasileiro. Foi duas vezes deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores.
Florestan começou a escrever no final dos anos 40, e ao longo de sua vida, publicou mais de 50 livros e centenas de artigos. Suas principais obras foram:
Organização social dos tupinambá (1949);
A função social da guerra na sociedade tupinambá (1952);
A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questioamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil, até os anos 50);
Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959);
Mudanças sociais no Brasil (1960) (nesta obra Florestan faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil);
Folclore e mudança social na cidade de São Paulo (1961) (esta obra reúne trabalhos e pesquisas realizadas nos anos em que Florestan foi aluno de Roger Bastide na USP, dedicados a várias manifestações de cultura popular entre crianças da cidade de São Paulo).
A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações raciais no Brasil);
Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968);
A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975) (reedição em volume de artigos anteriormente publicados em revisas científicas e dedicados à produção recente da antropologia brasileira);
A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica (1975).

Darcy Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997) foi um antropólogo, escritor e político brasileiro que se preocupava com os índios e a educação do país.
Era filho de Reginaldo Ribeiro dos Santos e de Josefina Augusta da Silveira. Em Montes Claros fez os estudos fundamentais e secundário, no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros. Notabilizou-se fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a quem admirava Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início dos anos sessenta, ficando também na história desta instituição por ter sido seu primeiro reitor. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Publicou vários livros, vários deles sobre os povos indígenas.
Durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ribeiro criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio. Muito antes dos políticos de direita incorporarem o discurso referente à importância da Educação para o desenvolvimento brasileiro, Darcy e Brizola já divulgavam estas idéias.
Nas eleições de 1986, Darcy foi candidato ao governo fluminense pelo PDT concorrendo com Fernando Gabeira (então filiado ao PT), Agnaldo Timóteo (PDS) e Moreira Franco (PMDB). Darcy foi derrotado, não conseguindo suplantar o favoritismo de Moreira que se elegeu graças à popularidade do recém lançado Plano Cruzado. Darcy Ribeiro também foi ministro-chefe da Casa Civil do presidente João Goulart, vice-governador do Rio de Janeiro de 1983 a 1987 e exerceu o mandato de senador pelo Rio de Janeiro, de 1991 até sua morte - anunciada por um lento processo canceroso, que comoveu todo o Brasil em torno de sua figura: Darcy, sempre polêmico e ardoroso defensor de suas idéias, teve em sua longa agonia o reconhecimento e admiração até dos adversários.
Poucos anos antes de falecer, publica O Povo Brasileiro, obra na qual, dentre outras impressões, Ribeiro relativiza a suposta ineficiência portuguesa.

Francisco de Oliveira, mais conhecido como Chico de Oliveira (Recife, 7 de novembro de 1933) é um sociólogo brasileiro, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
Formou-se em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia da Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco.
Professor aposentado de Sociologia do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), foi um dos fundadores do Cebrap. Coordenador-executivo do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania - Cenedic - da USP, deixou o Partido dos Trabalhadores e recentemente filiou-se ao PSoL (Partido Socialismo e Liberdade).
Em 25 de agosto de 2006, foi-lhe concedido o título de doutor honoris causa na Universidade Federal do Rio de Janeiro, por iniciativa do Instituto de Economia da UFRJ.
Em 28 de agosto de 2008, foi outorgado o título de professor emérito pela FFLCH-USP.
Atualmente é candidato a reitor da USP, representando a chapa de oposição. Contudo, não poderia se eleger segundo o estatuto da Universidade, pois é aposentado.


José de Souza Martins (São Caetano do Sul, 24 de outubro de 1938) é um escritor e sociólogo brasileiro.
Professor Emérito (2008) e Professor Titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) foi professor titular da Cátedra Simón Bolivar da Universidade de Cambridge, Inglaterra, (1993/1994) e membro de Trinity Hall. Foi professor visitante da Universidade da Flórida (EUA) e da Universidade de Lisboa.
Na Universidade de São Paulo, onde fez o curso de Ciências Sociais (1961-1964) e o mestrado (1966) e o doutorado (1970) em Sociologia, foi aluno de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Marialice Mencarini Foracchi, Paula Beiguelman, Ruth Cardoso, Eunice Ribeiro Durham, Ruy Galvão de Andrada Coelho,Gioconda Mussolini, Egon Schaden, dentre outros.
De 1996 a 2007, foi membro da Junta de Curadores do Fundo Voluntário das Nações Unidas contra as Formas Contemporâneas de Escravidão (Board of Trustees of UN Fund on the Contemporary Forms of Slavery), designado pelo secretário-geral. Em 2002, Foi assessor especial do presidente Fernando Henrique Cardoso para a questão do trabalho escravo e do trabalho infantil. De novembro de 2001 a dezembro de 2002, designado pelo Ministro da Justiça, integrou e coordenou, na Secretaria de Direitos Humanos, a comissão interministerial que preparou o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e do Trabalho Escravo.
Prêmio "Visconde de Cairu" - 1977 (Menção Honrosa), Instituto Roberto Símonsen, São Paulo, pelo livro Conde Matarazzo - Empresário e Empresa [Editora Hucitec, São Paulo, 1976]; Prêmio "Érico Vannucci Mendes" - 1993, CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência pelo conjunto da obra; Prêmio Jabuti 1993 de Ciências Humanas, da Câmara Brasileira do Livro pelo livro Subúrbio [Editora Hucitec/Prefeitura de São Caetano do Sul, São Paulo/São Caetano do Sul, 1992]; Prêmio Jabuti 1994 de Ciências Humanas, da Câmara Brasileira do Livro pelo livro A Chegada do Estranho [Editora Hucitec, S. Paulo, 1993], como Melhor Livro da Categoria de Ciências Humanas, de 1994; Prêmio a Pesquisador/2002, Fundo Bunka de Pesquisa-Banco Sumitomo Mitsui/Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, São Paulo, 3 de outubro de 2002; Prêmio Florestan Fernandes 2007, da Sociedade Brasileira de Sociologia, Recife, 28 de maio de 2007; Prêmio "Jabuti" de Ciências Humanas de 2009 pelo livro A Aparição do Demônio na Fábrica [Editora 34, S. Paulo, 2008].

Fernando Henrique Cardoso ou FHC (Rio de Janeiro, 18 de junho de 1931) é um sociólogo e cientista político Brasileiro. Professor Emérito da Universidade de São Paulo, lecionou também no exterior, notadamente na Universidade de Paris.[1] Foi funcionário da CEPAL, membro do CEBRAP, Senador da República (1983 a 1992),[2] Ministro das Relações Exteriores (1992), Ministro da Fazenda (1993 e 1994)[3] e presidente do Brasil por duas vezes (1995 a 2002).[4]
Graduado em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, desenvolveu considerável carreira acadêmica, tendo produzido diversos estudos sociais em nível regional, nacional e global, e recebido diversos prêmios e menções honrosas pelos trabalhos. É co-fundador, filiado e presidente de honra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).[5]
Natural do Rio de Janeiro, radicou-se em São Paulo, tendo casado com a antropóloga Ruth Cardoso (n. 1930 m.2008), com quem teve três filhos (Paulo Henrique, Luciana e Beatriz).[5] Teve ainda um quarto filho (Tomás Dutra Schmidt) em 1991, com a jornalista Miriam Dutra.[6] Atualmente, preside o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC, São Paulo) e participa de diversos conselhos consultivos em diferentes órgãos no exterior, como o Clinton Global Initiative, Brown University e United Nations Foundation.
Recentemente lançou um livro em que analisa o período presidencial em sua vida, "A arte da Política: a história que vivi" (Editora Civilização Brasileira, 2006).
Descendente de militares revolucionários (do chamado Tenentismo) de 1922 e 1930.
Descende de três gerações de generais: é bisneto do goiano Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, neto de Joaquim Inácio Batista Cardoso e filho Leônidas Cardoso, que foi um dos tenentes de 1930.
O avô materno do General Felicíssimo, foi o Capitão-General José Manoel da Silva e Oliveira, que teve grande liderança política em Goiás e no Triângulo Mineiro (na época pertencente a Goiás), por volta de 1800, tendo deixado obras manuscritas sobre as minas de Goiás. O Capitão José Manuel era irmão do fundador de Uberaba Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira.
O pai do Capitão-General José Manoel, o Sargento-Mor João da Silva de Oliveira, foi vereador em Ouro Preto na época da Inconfidência mineira. Essa família veio de Portugal fugindo das perseguições do Caso Távora, e por isso via com bons olhos Dona Maria I que anistiou os Távoras.
Fernando Henrique Cardoso formou-se em Sociologia na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e se tornou um estudioso do marxismo graças à influência de seu professor e amigo, o sociólogo Florestan Fernandes. Além de Marx, teve predileção por Maquiavel, Max Weber, Antonio Gramsci e Alexis de Tocqueville. Na época de estudante, fez parte de um grupo de estudos que se dedicou à leitura e discussão da obra O Capital, de Karl Marx.
Em 1953, casou-se com a antropóloga Ruth Corrêa Leite Cardoso, falecida em 24 de junho de 2008.
Foi o intérprete das palestras do filósofo francês Jean-Paul Sartre no Brasil, em 1960.
Foi professor de sociologia da USP. Durante o regime militar, esteve exilado no Chile e na França. Em 1968, voltou ao Brasil e assumiu por concurso público a cátedra de Ciência Política da USP, mas foi afastado pelo Decreto-lei 477, o "AI-5 das universidades"[10]. Lecionou no Chile, na França, Inglaterra e nos Estados Unidos. Na França, acompanhou de perto o movimento de Maio de 1968 iniciado justamente na Universidade que Fernando Henrique lecionava: Universidade de Paris X - Nanterre, em 22 de março de 1968.
Nos anos 70 foi pesquisador e diretor do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e se aproximou do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), colaborando na reelaboração do programa do partido.
FHC estimulou o MDB a moldar-se no Partido Democrata norte-americano, isto é, um partido "omnibus" — em latim, "para todos", ou seja, de uma frente ampla.
Ele pregava que tanto fazendo alianças amplas como repudiando a luta armada o MDB chegaria ao poder pelo voto.
Em 1978, saiu dos bastidores acadêmicos da política e começa a participar em campanhas políticas pessoalmente. Nesse ano se lança candidato ao Senado por São Paulo mas perde o pleito. Torna-se suplente de Franco Montoro que fora eleito nessa eleição senador da república.
Em 1980, quando se extinguiu o bipartidarismo e autorizou-se o multipartidarismo, FHC filiou-se ao PMDB, partido que era o sucessor natural do antigo MDB. FHC assume uma cadeira no Senado em 1983, quando Montoro renunciou ao mandato de senador para assumir o governo de São Paulo.
A partir de 1983, com a posse de 10 governadores de oposição ao governo de João Figueiredo, FHC participa das articulações visando a transição do regime militar para a democracia. Torna-se um dos grandes articuladores do "Diretas-já", amplo movimento social e político que revindicava eleições democráticas para presidente já no final do governo do presidente João Figueiredo.
Com prestígio junto a Tancredo Neves e Ulisses Guimarães e trânsito entre os militares e na maçonaria, FHC contribuiu para que não houvesse radicalização política e que acontecesse uma transição pacífica do regime militar para a democracia em 1985.
Teve voz na formação do governo de Tancredo Neves, mas a morte deste, seguida da ascensão de José Sarney, reduziu sua área de influência.
Durante o governo Sarney exerceu apenas o cargo de líder do governo no Congresso Nacional - função criada especialmente para ele por Tancredo Neves quando o senador Humberto Lucena (do PMDB da Paraíba), surpreendentemente derrotado por seu correligionário José Fragelli na disputa pela presidência do Senado Federal, teve de ser mantido na posição de líder do governo no Senado.
Em 1985 foi derrotado para a prefeitura de São Paulo por Jânio Quadros.
Em 1986 foi reeleito senador quando o PMDB teve uma vitória grande em todo o Brasil devido à popularidade do Plano Cruzado. Naquele ano, Mário Covas e FHC tornaram-se, nessa ordem, os senadores mais votados da história tendo tido cada um mais votos que o governador eleito Orestes Quércia e bateram o recorde de Jânio Quadros em 1960. Este fato tornou Mário Covas e FHC os principais líderes nacionais do PMDB.
Em 1988, reclamando que o PMDB tinha ficado "arenoso" (em referência à ARENA), ou seja, personalista e acomodado, FHC participou da fundação de um novo partido político — o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) que reunia vários próceres políticos do PMDB oriundos principalmente de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, descontentes com o controle do PMDB em seus estados pelos então governadores Orestes Quércia, Newton Cardoso e Álvaro Dias.
FHC foi membro da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a constituição de 1988.
Teve atuação destacada em 1992 na transição pacífica do governo Collor para o governo de Itamar Franco. FHC foi, de 1992 a 1993, Ministro das Relações Exteriores de Itamar.
Em 19 de maio de 1993 assumiu o Ministério da Fazenda, cargo que ocupou até o dia 30 de março de 1994, sendo sucedido por Rubens Ricupero. Nesse período começou a implantar o Plano Real, que foi dividido em três etapas, sendo as duas primeiras implantadas enquanto FHC era Ministro. A primeira etapa foi o Programa de Ação Imediata - PAI, que estabeleceu um conjunto de medidas voltadas para a redução e maior eficiência dos gastos da União no exercício de 1993.Numa segunda etapa, já no ano de 1994, editou-se a Medida Provisória nº 434, de 28 de fevereiro, que criou a URV - Unidade Real de Valor - já prevendo sua posterior transformação no Real.[11] Fernando Henrique deixa o cargo de Ministro da Fazendo em meados de março de 1994, para cumprir o prazo de desincompatibilização para disputar a Presidência. Em 30 de junho de 1994 o então Ministro da Fazenda de Itamar Franco Rubens Ricupero encaminhou ao presidente a Exposição de Motivos da MP do Plano Real E.M. Interministerial Nº 205/MF/SEPLAN/MJ/MTb/MPS/MS/SAF que disciplinou o Plano Real,[12] o Sistema Monetário Nacional, as regras e condições de emissão da moeda Real e os critérios para conversão das obrigações para o Real. Esse plano de estabilização econômica foi idealizado por uma equipe de economistas agrupados por FHC, de que faziam parte Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho, Winston Fritsch, entre outros.
Até então, Itamar Franco consentia com a ideia de tratar FHC como o "pai do Real", e o apoiava. No entanto, mais recentemente, nega tal informação:
A parte principal que quero re bater é a afirmação de que quando ele deixou o Ministério da Fazenda para se candidatar, tudo estava pronto e feito. Isto é uma inverdade.
Em outubro de 1994 foi eleito Presidente da República em primeiro turno, tendo sido fundamental para a sua eleição o sucesso do Plano Real, que fora finalizado pelo presidente Itamar Franco durante o mandato de seu ministro da fazenda Rubens Ricupero, em junho daquele ano.[12] Fernando Henrique Cardoso, no entanto, para favorecer sua eleição - então com a concordância de Itamar, que o apoiava - assinou como se ainda fosse ministro da fazenda as cédulas da nova moeda Real, embora quando elas entraram em circulação ele já não fosse mais ministro há 4 meses.
Tomou posse como presidente em 1 de janeiro de 1995, tendo nos dois mandatos como vice-presidente o ex-governador de Pernambuco e senador Marco Maciel, do PFL, uma das principais lideranças civis que apoiaram os governos militares pós 64.
A política de estabilidade e da continuidade do Plano Real foi o principal apelo da campanha eleitoral de 1998 para a reeleição de FHC. Foi reeleito já no primeiro turno.
FHC conseguiu para a sua eleição à presidência o apoio total do PSDB, do PFL, do PTB (que o apoiou nas duas eleições presidenciais), do Partido Progressista Brasileiro — PPB (atual PP) e de parte do PMDB, e conseguiu manter estes apoios nos seus 8 anos de governo, o que deu relativa estabilidade política ao Brasil neste período.
No primeiro mandato, FHC conseguiu a aprovação de uma emenda constitucional que criou a reeleição para os cargos eletivos do Executivo,[15] sendo o primeiro presidente brasileiro a ser reeleito. Em seu governo houveram diversas denúncias de corrupção,[16] dentre as quais merecem destaque as acusações de compra de parlamentares para aprovação da reeleição[17] e de favorecimento de alguns grupos financeiros no processo de privatização de empresas estatais.[18] A Polícia Federal estima que entre 1992 e 2002 (governo FHC) e 2003/2004 (governo Lula) aquele grupo girou mais de US$ 2 bilhões através do Opportunity Fund[19] - e os escândalos do caixa dois de sua campanha eleitoral, cujas planilhas mencionavam subsidiárias da empresa Alstom que, segundo o Der Spiegel, está sendo acusada pelo governo Suíço de ter pago em 1998, através da Companía de Asesores de Energia, uma empresa panamenha, propinas no valor de 200 milhões de dólares a integrantes do governo brasileiro para obter a concessão da Usina Hidrelétrica de Itá no Brasil no episódio conhecido como o Escândalo do caso Alstom.
O fim de seu segundo mandato foi marcado por uma crise no setor energético, que ficou conhecida como Escândalo do apagão. A crise ocorreu por falta de planejamento e ausência de investimentos em geração e distribuição de energia, e foi agravada pelas poucas chuvas. Com a escassez de chuva, o nível de água dos reservatórios das hidrelétricas baixou e os brasileiros foram obrigados a racionar energia. A crise acabou afetando a economia, e consequentemente provocou uma grande queda na popularidade de FHC.
No início de seu segundo mandato, uma forte desvalorização da moeda provocada por crises financeiras internacionais (México, Rússia e Ásia) leva o Brasil a uma grave crise financeira que, para ser controlada, teve como consequência um aumento dos juros, o que levou aos juros reais mais altos de sua história e a um aumento enorme na dívida interna.
No governo FHC, foi implantado o gasoduto Brasil-Bolívia. Foi criado o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), que garante mais recursos para o ensino fundamental. Em 1997, entrou em vigor a atual lei eleitoral que se pretende definitiva, pois, antes, havia uma lei eleitoral nova a cada eleição.
Nas eleições de 2002, seu partido, o PSDB, lança como candidato à presidência o ex-ministro da saúde, planejamento e senador por São Paulo José Serra, um dos principais colaboradores do governo de FHC. Todavia, sai como vencedor do pleito o ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva do PT, adversário político e crítico ardoroso da política econômica nos seus dois governos.
O segundo mandato do presidente FHC findou-se no dia 1º de janeiro de 2003, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
FHC foi o primeiro civil eleito pelo voto direto que conseguiu terminar o mandato de presidente desde Juscelino Kubitschek e até, aquele momento, o segundo presidente brasileiro que governou por mais tempo, depois de Getúlio Vargas.
FHC é o grande responsável pela privatização da companhia Vale do Rio Doce em 1997. Atualmente a Vale do Rio Doce é a maior empresa privada do Brasil, com valor de mercado estimado em 127 bilhões de dólares, gerando muito mais empregos ao povo e muito mais impostos ao Governo Federal do que na época em que ainda era estatal: ela mantém cerca de 60 000 pessoas empregadas, e recolhe 3 bilhões de dólares em impostos ao ano. Em 2008, faturou 38,5 bilhões de dólares e foi responsável por metade do superávit primário do Brasil.
FHC continuou o processo de privatização de empresas estatais iniciadas por Fernando Collor. Enfrentou, por isto, greve de servidores destas empresas . Foram privatizadas algumas rodovias federais, como a Rodovia Presidente Dutra (que liga as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro), a maioria bancos estaduais responsáveis por grande parte do déficit público e o sistema telefônico brasileiro.
A presidência de Fernando Henrique Cardoso também se destacou pela reforma do Estado promovida em seus dois mandatos.
FHC elaborou um Plano Diretor da Reforma do Estado, de acordo com o qual seria priorizado o investimento em carreiras estratégicas para a gestão do setor público. Esta reforma do estado era entendida como uma ruptura com a era Vargas e o Estado Novo, pois entendia-se que o estado interventor na economia que tinha surgido com Getúlio Vargas perdurava até os anos 1990.
FHC conseguiu a aprovação de várias emendas à constituição, que facilitaram a entrada de empresas estrangeiras no Brasil, o que ajudou a acirrar a concorrência interna e diminuir preços, beneficiando a população. Fernando Henrique sancionou a Lei do Petróleo, uma lei ordinária que revogou a Lei N° 2004, e assim acabou com o monopólio estatal do petróleo no Brasil. Em geral, FHC tentou atacar todas as fontes de déficit público, para eliminar o problema crônico da inflação, fazendo, por exemplo, em 1999 uma reforma da previdência social. Pelo mesmo motivo, evitou conceder aumentos de salário aos servidores públicos.
Foi adotada a terceirização de serviços e de empregos públicos em áreas consideradas não-essenciais. Foram aprovadas leis mais duras sobre crimes contra o sistema financeiro e uma lei criminalizando a tortura policial. Entrou em vigor em 1998 um código de trânsito mais rigoroso para diminuir número de acidentes nas rodovias.
Entrou em vigor em 2000 a lei de responsabilidade fiscal (LRF), que se caracteriza pelo rigor exigido na execução do orçamento público. A lei limita o endividamento dos estados e municípios e os gastos com funcionalismo público. A oposição, inclusive o PT, votaram contra.
FHC criou o Bolsa Escola, e outros programas sociais destinados à população de baixa renda, que atingiu 4 milhões de famílias beneficiadas (programas que mais tarde seriam transformados em um só pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, com o nome Bolsa Família).
Ampliou-se muito, no governo FHC, o investimento privado em educação superior (faculdades e pós-graduação), especialmente pela criação de linhas de crédito para Instituições de Ensino. Houve um salto nos índices de brasileiros cursando nível superior e ensino médio.
FHC também investiu em infraestrutura, duplicando importantes rodovias brasileiras: o trecho Belo Horizonte-São Paulo-Curitiba-Florianópolis, de 1290 km , por onde passa grande parte da economia brasileira; e os trechos BR-232 (140 km entre Recife e Caruaru) e BR-230 (132 km entre João Pessoa e Campina Grande), incrementando a economia nordestina. FHC também asfaltou rodovias de terra da Região Norte, para melhorar a economia e a integração nacional: com a Venezuela, ao asfaltar a rodovia BR-174 (988 km ligando Manaus-Boa Vista-fronteira com Venezuela), e com o Peru e Bolívia, ao asfaltar a rodovia BR-317 (331 km ligando Rio Branco à Assis Brasil, na fronteira tríplice).
Como sociólogo, FHC escreveu obras importantes para a teoria do desenvolvimento econômico e das relações internacionais.
Dedicou-se ao aprofundamento de suas teorias durante o período em que viveu no exílio durante o regime militar, ou golpe militar de 1964.
Foi um dos ideólogos da corrente dependentista ou desenvolvimentista. Participando dos grupos de estudos que resultaram na elaboração da Teoria da Dependência, diferenciando-se porém, da vertente marxista, liderada por Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini. Sua teoria sugere que os países subdesenvolvidos devam se associar entre si, buscando um caminho capitalista alternativo para o desenvolvimento, livrando-se da dependência das grandes potências. FHC era contrário à tese de que os países do terceiro mundo se desenvolveriam só se tivessem uma revolução socialista.
Em julho de 1995, Fernando Henrique Cardoso foi homenageado com os graus de doutor honoris causa da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Em 2004, FHC fundou o Instituto Fernando Henrique Cardoso, uma instituição sem fins lucrativos que pretende reunir sua obra e propor discussões sobre o Brasil e a América Latina.
Foi professor at large do Watson Institute for International Studies (Brown University) de 2003 a 2007.
Em 2004, foi eleito um membro da placa consultiva da Universidade do Sul da Califórnia, Centro da Diplomacia Pública.
Em 2005, foi eleito através de uma votação feita pela internet e organizada pela revista britânica Prospect um dos cem maiores intelectuais ainda vivos do mundo.[31] É membro do Clube de Roma.
Em 2005 tornou-se Doutor Honoris Causa pela Universidade de Montreal.
Fernando Henrique Cardoso é co-presidente do Inter-American Dialogue. É membro dos Conselhos Consultivos do Institute for Advanced Study, da Universidade de Princeton, e da Fundação Rockefeller, em Nova Iorque.
Desde junho de 2005, preside a Fundação Osesp, organização criada para manter a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
Até pouco tempo foi presidente do Club de Madrid, cargo que passou ao ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos.
Escreveu uma autobiografia avaliando seu governo chamada "A arte da política" e um outro livro "Carta a um jovem político".
Em 7 de setembro de 2006, FHC lançou uma "Carta aos Brasileiros" onde analisa o momento político e as eleições de 2006.
Sua mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, faleceu em 24 de junho de 2008, vitimada por uma arritmia cardíaca. Foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.
Livros de FHC sobre política e governo
A arte da política — A história que vivi, Editora Civilização Brasileira, 2006.
Cartas a um jovem político — Para construir um Brasil melhor, Editora Alegro, 2006.
O mundo em português, Editora Paz e Terra,1998.
O presidente segundo o sociólogo, Editora Companhia das Letras, 1998.
Perspectivas, Editora Paz e Terra, 1983.
Dependência e Desenvolvimento na América Latina, Editora México, 1969.

Roberto DaMatta (Niterói, 29 de julho de 1936) é um importante antropólogo brasileiro.
Possui graduação e licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense (1959 e 1962). Curso de especialização em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1960); mestrado (Master in Arts) e doutorado (PhD) em 1969 e 1971 respectivamente pela Universidade Harvard. Foi Chefe do Dept. de Antropologia do Museu Nacional e Coordenador do seu Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (de 1972 a 1976). É Professor Emérito da Universidade de Notre Dame, USA, onde ocupou a Cátedra Rev. Edmund Joyce, c.s.c., de Antropologia de 1987 a 2004. Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense. Realizou pesquisas Etnologicas entre os índios Gaviões e Apinayé. Foi pioneiro nos estudos de rituais e festivais em sociedades industriais, tendo investigado o Brasil como sociedade e sistema cultural por meio do carnaval, do futebol, da música, da comida, da cidadania, da mulher, da morte, do jogo do bicho e das categorias de tempo e espaço.
Considerado um dos grandes nomes das Ciências Sociais brasileiras, DaMatta é autor de diversas obras de referência na Antropologia, Sociologia e Ciência Política, como Carnavais, Malandros e Heróis, A casa e a rua ou O que faz o brasil, Brasil?.
Uma de suas grandes influências é o antropólogo estadunidense David Maybury-Lewis (grande especilista na etnia Xavante), a quem auxiliou durante seus estudos na Universidade Harvard, entre as décadas de 60 e 70. Desde 1971, reside nos Estados Unidos.
Em 1974 Oswaldo Caldeira realizou para o Ministério da Educação e Cultura, com finalidades didáticas, o documentário de média metragem Aukê. O filme é uma aula de Antropologia, baseada no estudo de Roberto DaMatta de 1970 chamado Mito e anti-mito entre os Timbira, que conta o surgimento do homem branco do ponto de vista indígena. O próprio Roberto DaMatta apresenta e explica seu trabalho ao longo do filme, que foi selecionado e exibido no Festival de Brasília de 1975.
Em 2001 recebeu a Ordem do Mérito do Rio Branco no grau de Comendador.
Profissional de múltiplas atividades – conferencista, professor, consultor, colunista de jornal, produtor de TV – Roberto DaMatta é acima de tudo antropólogo.
Estudioso do Brasil, de seus dilemas e de suas contradições, mas também de seu potencial e de suas soluções, DaMatta não se afasta de seu país mesmo quando desenvolve outros temas. A comparação com o Brasil é inevitável.
DaMatta revela o Brasil, os brasileiros e sua cultura através de suas festas populares, manifestações religiosas, literatura e arte, desfiles carnavalescos e paradas militares, leis e regras (quando respeitadas e quando desobedecidas), costumes e esportes.
Daí surge um Brasil complexo, que não se submete a uma fórmula ou esquema único. Para DaMatta, o Brasil é tão diversificado como diversificados são os rituais, conjunto de práticas consagradas pelo uso ou pelas normas, a que os brasileiros se entregam.
Todos esses temas são abordados em sua relação com duas espécies de sujeito, o indivíduo e a pessoa, e situados em dois tipos de espaço social, a casa e a rua.
A distinção entre indivíduo e pessoa é bem demarcada em seu original trabalho sobre a conhecida e ameaçadora pergunta: Você sabe com quem está falando?. Os seres humanos que se sentem autorizados a se dirigir dessa forma aos outros, colocam-se na posição de pessoas: são titulares de direito, são alguém no contexto social. Os seres humanos a quem tal pergunta é dirigida são, para as pessoas, meros indivíduos, mais um na multidão, um número.
A rua é o espaço público. Como é de todos, não é de ninguém, logo, tem-se ali um espaço hostil onde não valem as leis e os princípios éticos, a não ser sob a vigilância da autoridade. A convivência na rua depende de uma negociação constante, entre iguais e desiguais. A casa, considerada num sentido amplo, é o espaço privado por excelência, onde estão “os nossos”, que devem ser protegidos e favorecidos, e aqui DaMatta retoma e atualiza o conceito de homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda.
Bibliografia
Índios e castanheiros (com Roque de Barros Laraia) - 1967
Ensaios de antropologia cultural - 1975
Um mundo dividido: a estrutura social dos índios Apinayé - 1976 (em inglês, 1982)
Carnavais, malandros e heróis - 1979 (em francês, 1983; em inglês, 1991)
Universo do carnaval: imagens e reflexões - 1981
Relativizando: uma introdução à antropologia social, 1981
O que faz o brasil, Brasil? - 1984
A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil - 1984 (em 2000, foi lançada a 11ª edição)
Explorações: ensaios de sociologia interpretativa - 1986
Conta de mentiroso: sete ensaios de antropologia brasileira - 1993
Torre de Babel: ensaios, crônicas, críticas, interpretações e fantasias - 1996
Águias, burros e borboletas: um ensaio antropológico sobre o jogo do bicho - 1999
Profissões industriais na vida brasileira - 2003
Tocquevilleanas, notícias da América - 2005
A bola corre mais que os homens: duas Copas - 2006
O que é Brasil? - 2007
Crônicas da vida e da morte - 2009
Além de sua obra em livro, DaMatta tem centenas de artigos e ensaios em revistas científicas e coletâneas, bem como verbetes em dicionários e enciclopédias, no Brasil e no exterior, publicados a partir de 1963. Mantém uma coluna semanal no O Globo, do Rio de Janeiro.

Sérgio Buarque de Holanda (São Paulo, 11 de julho de 1902 — São Paulo, 24 de abril de 1982) foi um dos mais importantes historiadores brasileiros. Foi também crítico literário e jornalista.
Sérgio Buarque de Holanda estudou em diversas escolas de São Paulo. Mudou-se, em 1921, para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde obteve o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais em 1925.
Ao longo da década de 1920, atuou como representante do movimento modernista paulista no Rio de Janeiro. Trabalhou então em diferentes órgãos de imprensa e, entre 1929 e 1930, foi correspondente dos Diários Associados em Berlim, onde também freqüentou atividades acadêmicas, como as conferências do historiador Friedrich Meinecke.
De volta ao Brasil no começo dos anos 30, continuou a trabalhar como jornalista. Em 1936, obteve o cargo de professor assistente da Universidade do Distrito Federal. Neste mesmo ano, casou-se com Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim, com quem teria sete filhos: Sérgio, Álvaro, Maria do Carmo, Ana Maria, Maria Cristina, além dos músicos Miúcha e Chico Buarque. Ainda em 1936, publicou o ensaio Raízes do Brasil, que foi seu primeiro trabalho de grande fôlego e, ainda hoje, é o seu escrito mais conhecido.
Em 1939, extinta a Universidade do Distrito Federal, passou a trabalhar na burocracia federal. Em 1941, passou uma longa temporada como visiting scholar em diversas universidades dos Estados Unidos da América.
Reuniu, no volume intitulado Cobra de Vidro, em 1944, uma série de artigos e ensaios que anteriormente publicara nos meios de imprensa. Publicou em 1945 e 1957, respectivamente, Monções e Caminhos e Fronteiras, que consistem em coletâneas de textos sobre a expansão oeste da colonização da América Portuguesa entre os séculos 17 e 18.
Em 1946, voltou a residir em São Paulo, para assumir a direção do Museu Paulista, - que ocuparia até 1956 - sucedendo então ao seu antigo professor escolar Afonso Taunay. Em 1948, passou a lecionar na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na cátedra de História Econômica do Brasil, em substituição a Roberto Simonsen.
Viveu na Itália entre 1953 e 1955, onde esteve a cargo da cátedra de estudos brasileiros da Universidade de Roma. Em 1958, assumiu a cadeira de História da Civilização Brasileira, agora na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. O concurso para esta vaga motivou-o a escrever Visão do Paraíso, livro que publicou em 1959, no qual analisa aspectos do imaginário europeu à época da conquista do continente americano. Ainda em 1958, ingressou na Academia Paulista de Letras e recebeu o Prêmio Edgar Cavalheiro, do Instituto Nacional do Livro, por Caminhos e Fronteiras.
A partir de 1960, passou a coordenar o projeto da História Geral da Civilização Brasileira, para o qual contribuiu também com uma série de artigos. Em 1962, assumiu a presidência do recém-fundado Instituto de Estudos Brasileiros. Entre 1963 e 1967, foi professor convidado em universidades no Chile e nos Estados Unidos da América e participou de missões culturais da Unesco em Costa Rica e Peru. Em 1969, num protesto contra a aposentadoria compulsória de colegas da Universidade de São Paulo pelo então vigente regime militar, decidiu encerrar a sua carreira docente.
No contexto da História Geral da Civilização Brasileira, publicou, em 1972, Do Império à República, texto que a princípio fora concebido como um simples artigo para a coletânea, mas que, com o decurso da pesquisa, acabou por ser ampliado num volume independente. Trata-se de um trabalho de história política que aborda a crise do império brasileiro no final do século 19, explicando-a como resultante da corrosão do mecanismo fundamental de sustentação deste regime: o poder pessoal do imperador.
Permaneceu intelectualmente ativo até 1982, tendo ainda neste último decênio publicado diversos textos. De 1975 é o volume Vale do Paraíba - Velhas Fazendas e de 1979, a coletânea Tentativas de Mitologia. Nestes últimos anos, trabalhou também na reelaboração do texto de Do Império à República - que não chegou a concluir. Participou, em 1980, da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores. Neste mesmo ano, recebeu tanto o Prêmio Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, quanto o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Escritos mais importantes
Raízes do Brasil. Rio de Janeiro, 1936.
Cobra de Vidro. São Paulo, 1944.
Monções. Rio de Janeiro, 1945.
Expansão Paulista em Fins do Século XVI e Princípio do Século XVII. São Paulo, 1948.
Caminhos e Fronteiras. Rio de Janeiro, 1957.
Visão do Paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo, 1959.
Do Império à República. São Paulo, 1972. (História Geral da Civilização Brasileira, Tomo II, vol. 5).
Tentativas de Mitologia. São Paulo, 1979.
Sergio Buarque de Hollanda: História (org. Maria Odila Dias). São Paulo, 1985.
O Extremo Oeste [obra póstuma]. São Paulo, 1986.
O espírito e a letra (org. Antonio Arnoni do Prado) 2 vols. São Paulo, 1996.
Para uma nova história (org. Marcos Costa). São Paulo, 2004 (coletânea de textos, publicados, quase todos, em jornais de notícias).

Fonte: Wikipédia

Questões objetivas:
1. “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo — há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil — a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do africano.”
De acordo com esse fragmento de Gilberto Freyre, o processo de formação da identidade brasileira ocorreu através:
a) ( ) da raça negra
b) ( ) da raça branca
c) ( ) da raça indígena
d) ( ) da miscigenação

2. Sérgio Buarque de Holanda com sua obra Raízes do Brasil dá sua contribuição para uma interpretação da identidade nacional, destacando a influência de nações na nossa colonização:
a) ( ) É na Europa e, particularmente, na Península Ibérica que Sérgio Buarque encontra o pilar central desta identidade em construção.
b) ( ) Na verdade, o autor destaca a importância do negro africano no processo de formação da nossa brasilidade.
c) ( ) Sérgio Buarque coloca o índio, nativo local antes da chegada dos portugueses e o seu contato com eles como primordial para a construção da nova nação.
d) ( ) O autor, mesmo reconhecendo as limitações, destaca os imigrantes europeus como fundamental para a constituição da identidade brasileira.

3. No início do século XX, apareceu uma obra de cunho jornalística e literária, mas que dizia muito sobre a sociedade brasileira pós Proclamação da República de autoria de Euclides da Cunha que o tornou famoso mundialmente. Esta obra chama-se:
a) ( ) Casa Grande & Senzala
b) ( ) Os Sertões
c) ( ) Grande sertão veredas
d) ( ) Raízes do Brasil

4. Herbert de Sousa é um dos sociólogos de maior destaque no final do século XX por seu engajamento em questões sociais. Além de analisar a sociedade brasileira com seus problemas e desafios ele criou:
a) ( ) uma ONG que trabalha com moradores de rua e presta serviços de saúde gratuitamente.
b) ( ) uma concepção diferente da capitalista, privilegiando a classe média.
c) ( ) uma universidade que recebeu seu nome para incentivar a pesquisa social.
d) ( ) a campanha intitulada Natal sem Fome, mobilizando toda a sociedade no período natalino para a ação de solidariedade, sendo continuada mesmo após sua morte.



5. Fernando Henrique Cardoso, conhecido como FHC, discípulo de outro grande sociólogo Florestan Fernandes, e eleito presidente do Brasil por duas vezes, implantou definitivamente, na década de 1990, a política neoliberal. Suas principais decisões nesse sentido foram:
a) ( ) continuar com a política de seu antecessor, Itamar Franco de criar novas empresas públicas
b) ( ) confiscou a caderneta de poupança e criou o plano cruzado.
c) ( ) começou uma campanha de privatização das empresas públicas alegando déficit público, vendendo a Companhia Vale do Rio Doce.
d) ( ) implantou nas escolas públicas de nível médio, a inclusão das disciplinas de Filosofia e Sociologia.

6. Roberto DaMatta é um antropólogo. Estudioso do Brasil, de seus dilemas e de suas contradições, mas também de seu potencial e de suas soluções. DaMatta revela o Brasil, os brasileiros e sua cultura através de suas festas populares, manifestações religiosas, literatura e arte, desfiles carnavalescos e paradas militares, leis e regras (quando respeitadas e quando desobedecidas), costumes e esportes. Daí surge um Brasil complexo, que não se submete a uma fórmula ou esquema único. Para DaMatta, o Brasil é tão diversificado como diversificados são os rituais, conjunto de práticas consagradas pelo uso ou pelas normas, a que os brasileiros se entregam. Todos esses temas são abordados em sua relação com duas espécies de sujeito, o indivíduo e a pessoa, e situados em dois tipos de espaço social, a casa e a rua. A distinção entre indivíduo e pessoa é bem demarcada em seu original trabalho sobre a conhecida e ameaçadora pergunta: Você sabe com quem está falando?. Os seres humanos que se sentem autorizados a se dirigir dessa forma aos outros, colocam-se na posição de pessoas: são titulares de direito, são alguém no contexto social. Os seres humanos a quem tal pergunta é dirigida são, para as pessoas, meros indivíduos, mais um na multidão, um número. A rua é o espaço público. Como é de todos, não é de ninguém, logo, tem-se ali um espaço hostil onde não valem as leis e os princípios éticos, a não ser sob a vigilância da autoridade. A convivência na rua depende de uma negociação constante, entre iguais e desiguais. A casa, considerada num sentido amplo, é o espaço privado por excelência, onde estão “os nossos”, que devem ser protegidos e favorecidos, e aqui DaMatta retoma e atualiza o conceito de homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda.
De acordo com o texto, Roberto DaMatta revela um Brasil:

a) ( ) de contrastes, de um lado o Brasil dos ricos, do outro, o dos pobres gerando assim a desigualdade social.
b) ( ) DaMatta revela o Brasil, os brasileiros e sua cultura através de suas festas populares, manifestações religiosas, literatura e arte, desfiles carnavalescos e paradas militares, leis e regras (quando respeitadas e quando desobedecidas), costumes e esportes.
c) ( ) DaMatta concorda com o conceito de homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda.
d) ( ) o autor está mais preocupado com o estudo antropológico das leis e costumes entre os brasileiros.

7. Darcy Ribeiro foi um antropólogo, escritor e político brasileiro que se preocupava com os índios e a educação do país. Como senador ajudou a elaborar a nova:

a) ( ) Constituição Brasileira
b) ( ) Código Penal
c) ( ) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
d) ( ) Código Civil


8. Autor de Casa Grande & Senzala, onde defende a tese polêmica do contato harmonioso entre as raças formadoras do Brasil: índios, negros e brancos:

a) ( ) Francisco de Oliveira
b) ( ) Florestan Fernandes
c) ( ) Fernando Henrique Cardoso
d) ( ) Gilberto Freyre

9. Introduziu a Sociologia no Brasil e foi eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores:
a) ( ) Euclides da Cunha
b) ( ) Francisco de Oliveira
c) ( ) Darcy Ribeiro
d) ( ) Florestan Fernandes

10. Darcy Ribeiro, antes de morrer, escreveu uma obra onde relativiza a suposta ineficiência portuguesa. Estamos falando da obra:
a) ( ) Raízes do Brasil
b) ( ) O Povo Brasileiro
c) ( ) Os Sertões
d) ( ) Casa Grande & Senzala